O objeto de estudo desta tese são discursos que circulam em teses e
dissertações sobre infância-educação, produzidas e defendidas no interior de
programas de Pós-graduação em Educação do Brasil e da Argentina. A base
teórica de compreensão dos discursos é a hermenêutica de Paul Ricoeur. As
questões que levantamos são: como os “atos de dizer” das produções se
articulam ao exterior? Que interpretações os atos locucionário, ilocucionário e
perlocucionário produzem em nós como leitores dos discursos? Que sentidos
são promovidos pelos ditos recorrentes nos textos? Objetiva-se “compreender,
com base na hermenêutica de Paul Ricoeur, o estado do conhecimento sobre
infância-educação no Brasil e na Argentina, produzido em Programas de Pósgraduação em Educação, para situar seu sentido”. Objetiva-se especificamente:
descrever os “ditos” das produções, seus “atos de dizer”, inter-relacionando-os
ao mundo exterior; verificar como os efeitos de dizer dos produtos (ato
locucionário) e seus resultados (ato ilocucionário e perlocucionário) produzem
um conhecimento que circula entre os textos dos interlocutores da área; e
mapear os sentidos que os textos produzem. Metodologicamente, trata-se de
uma tese teórica, que se aproxima de estudos configurados como estado do
conhecimento. A hipótese levantada é de que, sobre a relação infânciaeducação, desenvolvem-se interpretações anacrônicas sobre o tema, resultando
em atos de dizer descontextualizados, por vezes muito centrados em autores
estrangeiros. Os resultados demonstram que o conhecimento sobre infânciaeducação, produzido nos Programas de Pós-graduação em Educação do Brasil
e da Argentina, nos anos pós-redemocratização, ratificam uma verdade sem a
qual os próprios discursos acadêmicos não existiriam – a de que não há a
possibilidade de se pensar infância sem o eixo educação. Esta constatação, um
tanto tautológica, confirma em parte a hipótese, inicialmente levantada, de que
sobre a relação infância-educação se desenvolvem interpretações anacrônicas
sobre o tema, resultando em atos de dizer descontextualizados, por vezes muito
centrados em autores estrangeiros. Dizemos em parte, porque os textos
apresentam, não raramente, lógicas enunciativas que se fundamentam em
reflexões alheias aos problemas de pesquisa levantados quando recorrem a
reflexões advindas de contextos outros. Isso, todavia, não arrefece a importância
dos estudos, que apresentam avanços incontestes, situados na capacidade que
apresentam de refletir sobre problemas que precisam ser enfrentados (ensino
descontextualizado, violência contra a criança, autoritarismo na escola,
discriminação e preconceito, entre outros) diante de uma modernidade que
parece irremediável.