Debate-se aqui a interpretação proposta por Werner Stegmaier do pensamento do eterno retorno do mesmo de Nietzsche como antidoutrina. Ainda que claramente viável, limitando a ela o papel do pensamento do retorno, corre-se o risco de enfraquecer aquilo que parece ser o que de mais premente ele traz consigo: a pergunta pela reação ao prospecto da repetição eterna da existência tal como se a viveu, minando a potência do que Nietzsche viu nela de mais aterrorizante, de mais pesaroso, mas também de mais profícuo. Ademais, é possível entender o pensamento do retorno como antidoutrina, e colher os frutos disso, dentre os quais a crítica à metafísica, cara a Stegmaier, sem a necessidade de qualquer dos impasses paradoxalizantes vistos por ele – impasses que, além de desviar o foco de sua pergunta, bloqueiam o que este pensamento traz para além da crítica da metafísica, como tentativa de incursão desvencilhada da preocupação com a metafísica, com a dinâmica posta por ela e da necessidade de se opor a ela em tal dinâmica. Ao colocar todos os célebres conceitos nietzscheanos alinhados como antidoutrinas, e nisso tendo o mesmo objetivo final, corre-se o risco de equacioná-los, indo contra o que prega a filosofia da qual são partícipes. Dizer que eles passam também por essa preocupação, que se prestam também a isso parece ser bem acertado – sobretudo em uma filosofia que se avisa calcada nesta preocupação, sendo esta demolição de certezas e suspeitas o seu primeiro nível, sua porta de entrada. Há de se ter cautela, entretanto, para que, na ânsia de trazer à tona esta sua qualidade, encontrada em cada uma de suas vírgulas, não se limite seu alcance a ela, nem sua capacidade de divisar para além dela.