Devido às suas propriedades únicas, como maleabilidade e ductilidade, os elementos terras raras (ETR), dentre os quais o lantânio (La), são fundamentais para as indústrias de alta tecnologia. Assim, nas últimas décadas houve um expressivo aumento das concentrações destes elementos no ambiente, devido ao descarte de resíduos industriais e também por causa da aplicação de fertilizantes fosfatados, uma vez que esses podem conter quantidades expressivas de ETR. Diante disso, torna-se necessário avaliar quais são os riscos a que os organismos estão sujeitos em um ambiente com concentrações de ETR acima das naturais, principalmente em áreas agrícolas que exigem altas aplicações de fertilizantes fosfatados, como é o caso de solos tropicais. Nesse sentido, os objetivos do presente estudo foram: (i) avaliar o risco ecotoxicológico do La e propor valor limite de adição do elemento em solos tropicais para prevenção de fitotoxicidade; e, (ii) avaliar o efeito do La sobre os teores de nutrientes na parte aérea de espécies de plantas cultivadas em solos tropicais. Foram realizados ensaios ecotoxicológicos seguindo protocolos padrão em que quatro espécies de plantas (milho, sorgo, soja e girassol) foram expostas a concentrações crescentes de La aplicadas em três solos, dois solos naturais (Latossolo distrófico Vermelho - LVd e Latossolo distrófico Vermelho-Amarelo - LVAd) e um solo artificial tropical (SAT). Os resultados variaram de acordo com a espécie vegetal e o solo, evidenciando como as propriedades físico-químicas dos solos determinam os efeitos do La sobre as plantas e como estas apresentam diferenciadas respostas ao elemento. Os efeitos prejudiciais foram mais pronunciados nas plantas cultivadas em solos naturais, principalmente em LVd, para as quais foram encontrados os menores valores dos índices de toxicidade. Além disso, para a parte aérea das plantas cultivadas nestes solos, constatou-se, em geral, maior ocorrência de redução dos teores de nutrientes e aumento dos teores de La. Por outro lado, para as plantas cultivadas em SAT foi observada menor fitotoxicidade do La, o que, em geral, ocorreu a partir da dose de 614 mg La kg-1 de solo seco. Além disso, os teores de nutrientes na parte aérea destas plantas, em geral, aumentaram ou não apresentaram efeitos significativos com relação aos controles. Neste solo foi observado ainda o fenômeno conhecido como hormese, principalmente para as plantas de milho, com leves efeitos estimulantes na matéria seca da parte aérea e fotossíntese. De modo geral, considerando todos os solos e espécies, o girassol foi a espécie mais sensível ao La. Além disso, a matéria seca da parte aérea foi a variável mais afetada, com exceção do milho cultivado em LVd, para o qual a fotossíntese apresentou os menores valores dos índices de toxicidade. Baseando-se nos valores de EC20 (concentração que causou 20% de efeito na variável) encontrados para as plantas cultivadas em solos naturais, foi proposto o valor limite de La de 147.6 mg kg-1 de solo seco, valor preventivo de fitotoxicidade e, possivelmente, de ecotoxicidade nos solos estudados