A pesquisa de campo que deu origem a esta tese teve como ponto de partida o seguinte problema de pesquisa: como o trabalho institucional realizado por diferentes atores do campo da cachaça de alambique em Minas Gerais tem contribuído para a criação, manutenção e interrupção de instituições jurídicas? Para tanto, fundamentou-se nos pressupostos ontológicos e epistemológicos do construcionismo social e nos preceitos teóricos do institucionalismo histórico e da teoria do trabalho institucional. Adotou-se também o método de pesquisa de natureza qualitativa que permitiu a aplicação da análise temática, da análise de narrativas e da arqueologia jurídica como técnicas de sistematização, interpretação e compreensão do trabalho institucional de criação, manutenção e interrupção de instituições jurídicas que normatizam e condicionam a ação coletiva vivenciada por diferentes atores organizacionais. O contexto histórico de proibição da bebida e da estigmatização de seu uso por classes menos favorecidas, com o intuito de desestimular seu consumo e promover o vinho português atrasou o processo de mudança institucional fazendo com que somente em 2003 fosse criada a identidade jurídica da cachaça. A despeito disso, em 2001 o protagonismo do trabalho institucional de atores no estado mineiro contribuiu para a criação da identidade jurídica da Cachaça Artesanal de Minas e ao processo de renovação da identidade da cachaça de alambique, entendida como aquela produzida em menor escala, em alambique de cobre, obtida a partir do caldo da cana fresco, de fermentação natural, com a separação das frações “cauda”, “cabeça” e “coração”, inspirada, muitas vezes, na ancestralidade da produção. Nas narrativas de trabalhos institucionais a pesquisa revelou uma gama de ações realizadas pelos diferentes atores para criar as instituições jurídicas de padronização e de fabricação, bem como para manter as instituições de padronização, de fabricação e ambientais, renovar as instituições tributárias e também interrompê-las quando sua criação significou em aumento de carga tributária para o setor. O trabalho institucional no campo da cachaça de alambique em Minas Gerais apresenta uma dinâmica social permeada por uma arena política de lutas e relações de poder que envolvem atores públicos e privados na defesa de interesses de dois segmentos: cachaça de coluna e cachaça de alambique. O lobby realizado por ambos segmentos se relaciona com a atuação profissional de se pressionar a tomada de decisão do parlamento e dos governos federais e estaduais por meio de argumentos, dados, pesquisas, estudo técnicos e científicos sobre o setor e as características físico-químicas da bebida. Trabalhos institucionais realizados em coalização foram narrados para renovação da instituição jurídica do Simples Nacional, alteração de contaminante e interrupção do aumento da carga tributária. Não obstante o desafiador cenário de impostos desproporcionais, exigências de instalações de porte industrial para pequenos produtores e concorrência desleal de informais, os trabalhos de manutenção da identidade jurídica da cachaça e de renovação da identidade da cachaça de alambique reafirmam a cultura e a tradição da produção da bebida em solo brasileiro e amplia a arena política de conflitos, pressão, resistência, infiltração política e de novas formas de relacionamentos governamentais.