Essa dissertação tem como objetivo analisar o Genocídio Armênio, perpetuado pelo Império Otomano, governado pelo Comitê para União e Progresso, contra sua população armênia, em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial. Esse episódio foi um dos primeiros genocídios do século XX, influenciando outros episódios semelhantes como a Shoah e as limpezas étnicas no Terceiro Mundo. Através de fontes diplomáticas, relatos de sobreviventes e dos julgamentos das Cortes Marciais de Istambul pudemos analisar o episódio em três momentos: primeiro com seus antecedentes, no século XIX otomano marcado pela decadência do poder do sultão sob as minorias e a entrada de ideias nacionalistas no Império. O nacionalismo é importante para entender a ideia de auto determinação das minorias no período, e também as que vão chegar na maioria turca em momentos posteriores. Esse período ficaria marcado pelos primeiros episódios de violência contra os armênios otomanos, no caso os Massacres Hamidianos e o Massacre de Adana. Esses dois eventos ainda não fazem parte do genocídio e de uma política coordenada de extermínio, mas demonstram a existência de um potencial genocida dentro do império. O segundo momento é na década de dez do século XX, quando as acentuadas derrotas militares do Império o levam a aventura da entrada na Primeira Guerra Mundial e a adoção de práticas genocidas contra sua minoria armênia, acusada de traição e de atividades revolucionárias. Aqui também iremos contextualizar a ideia de genocídio, uma ideia com diferentes conotações e bastante polêmica. Nos será muito cara a ideia original de genocídio de Raphael Lemkin, onde o crime é dividido em duas fases, pois no caso armênio tão importante quanto os assassinatos e as marchas da morte foram o sequestro de crianças, os haréns e outras formas de turquificação forçada dessa população. Finalmente, no terceiro momento, veremos o pós-guerra, quando houveram tentativas de punir o Genocídio Armênio, seja dentro do Império com as Cortes Marciais de Istambul, seja fora do Império com o Tratado de Sèvres. Essa justiça cairia com a vitória dos nacionalistas turcos na Guerra de Independência e o Tratado de Lausanne, que não citava os armênios, iniciando assim o período de silêncio dos perpetradores sobre o crime. Terminamos refletindo sobre a ideia de ressentimento, principalmente a verdete pensada pelo filósofo Jean Amery, e como esse ressentimento está presente na busca dos sobreviventes e de seus descendentes por justiça 105 anos depois do genocídio.