A Anemia Falciforme (AF) é caracterizada por anemia e por dor devido à hemólise crônica e episódios recorrentes de isquemia, respectivamente. Na presença de hipóxia, a hemoglobina (Hb) anômala, a HbS, desencadeia a oclusão microvascular, fenômeno potencializado pela adesão de eritrócitos e leucócitos ao endotélio vascular. Com isso, observa-se vasculopatia e inflamação características da AF, com a célula endotelial apresentando importante papel. O endotélio é um tecido dinâmico, em equilíbrio, onde o compartimento de circulação reflete tanto a lesão como a regeneração da árvore vascular. Neste compartimento identificam-se células endoteliais circulantes (CECs) liberadas a partir de lesão vascular e células endoteliais progenitoras (CEPs) envolvidas na regeneração vascular. Todavia, a importância dessas células na AF e sua relação com o tipo de tratamento ainda necessita de maiores esclarecimentos. Objetivos: Avaliar o fenótipo endotelial de indivíduos com anemia falciforme e determinar se o tipo de tratamento influencia nesta manifestação. Casuística: Analisados 45 portadores de AF, acompanhados no Ambulatório de Hemoglobinopatias da Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP). Foram distribuídos, segundo o tratamento, nos grupos: a) SS (N=11) – estado basal sem hidroxiuréia (HU); b) SS-HU (N=19) – uso de dose máxima tolerada de HU; c) SS-TF (N=15) – esquema transfusional crônico. Grupo controle (CN, N=13) constituído por indivíduos saudáveis. Trabalho aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa e participantes assinaram TCLE. Critérios de exclusão: gestantes, puérperas, crise vaso-oclusiva nos últimos 3 meses, insuficiência renal crônica e úlcera de perna em atividade. Nos grupos SS e SS-HU foram excluídos aqueles que receberam transfusão de hemácias nos últimos 3 meses. Métodos: Avaliação laboratorial: hemograma, provas de hemólise e proteína C reativa (PCR). Identificação e quantificação das CECs e CEPs realizada por Citometria de Fluxo (FACSCantoII®). Resultados: O grupo SS apresentou maior número de CECs (mediana:2,73; min-max: 0 – 20,0) que o CN (0,39; 0 – 4,20) e o SS-TF (0,67; 0 – 2,99), p=0,016 e 0,013, respectivamente. O grupo SS-HU apresentou maior quantificação de CEPs (0; 0 – 6,62) que os grupos SS e SS-TF (0; 0 – 0 em ambos os grupos), p< 0,05. Não houve relação entre determinação de CECs e manifestações clínicas, no entanto os pacientes com priapismo apresentaram valores maiores (2,28; 0,74 – 6,09) do que os sem essa manifestação (0,68; 0 – 20,0) com p = 0,055. Não foi observada correlação significante entre os dados de CEPs e as manifestações clínicas. Discussão & Conclusão: Nossos resultados corroboram estudos anteriores que associam o aumento de CECs às complicações endoteliais da AF. A presença de menor número de CEPs nos grupos SS e SS-TF quando comparado ao grupo SS-HU sugere que a HU possa dar uma proteção endotelial e levanta a questão de sua indicação para todos os portadores de AF no sentido de prevenir manifestações graves relacionadas à disfunção endotelial.