Esta Tese analisou o processo de expansão de discursos e práticas feministas mediadas
pela internet, ao longo da década de 2010. Esses anos foram marcados por iniciativas de
ativismos feministas diversos, dentro e fora da internet, sendo que um fator teve
importante destaque: os usos do espaço virtual para divulgar e promover plurais ações
feministas, como produções textuais e audiovisuais nas mais variadas plataformas
digitais (entre sites, blogs, portais e redes socais virtuais), as quais geraram reflexões,
debates, campanhas e mobilizações sociais. Essas iniciativas levaram ao gradual
aumento do alcance de temáticas feministas na sociedade, e nesse aspecto, dois blogs de
escrita coletiva foram pioneiros em fazer circular debates até então pouco explorados no
âmbito da internet brasileira, são eles o Blogueiras Feministas e o Blogueiras Negras.
Criados em 2010 e 2013, respectivamente, e atuantes até os anos finais dessa década,
ambos se configuraram como plataformas feministas onde foi possível publicar, ler e
aprender sobre múltiplas percepções e problematizações feministas. Também a partir
desses blogs ocorreram sociabilidades, trocas e interações entre feministas oriundas de
diferentes lugares do país. Essas interações puderam se aproximar devido às facilidades
possibilitadas pela igualmente crescente ampliação dos acessos à internet, desde meados
da década de 2000. Diante desse contexto, foram analisados vários materiais publicados
na rede relacionados a esses ativismos digitais com o objetivo de compreender como
ocorreram esses processos. Esses materiais são textos, reflexões, debates e publicações
diversas, dentre as quais foram selecionadas, principalmente, as produções dos dois
blogs supracitados. Essas publicações foram compreendidas como documentos
inseridos no tempo. Ou seja, são fontes históricas capazes de fornecer informações
importantes sobre o período em questão. Nesses termos, esse estudo se pautou pela
perspectiva da História do Tempo Presente – a qual percebe o presente como um tempo
historicamente construído, portanto, passível de ser historicizado. E foi
operacionalizado pelas metodologias da netnografia (etnografia das produções e
interações feitas no âmbito da internet) e pelas análises das narrativas e dos discursos
feministas construídos nesses espaços virtuais. Um dos principais desdobramentos
desses ativismos foi a emergência de três temas que circularam proficuamente na
sociedade, gerando importantes debates e desconstruções: o feminismo interseccional;
os debates ligados aos estudos pós-coloniais e decoloniais; e as críticas à branquitude.
Esses temas foram analisados ao longo dos cinco capítulos que compõem a pesquisa.