Os hantavírus são vírus zoonóticos, pertencentes à família Bunyaviridae e estão distribuídos em todo o mundo. Possuem como material genético RNA e nas Américas são abrigados em roedores da subfamília Sigmodontidae, os quais se comportam como reservatórios. No ser humano, as formas de infecção por hantavírus incluem apresentações clínicas que variam de formas leves da doença até quadros mais graves, com o desenvolvimento da Síndrome Pulmonar Cardiovascular por Hantavírus (SPCVH). Os hantavírus são transmitidos por meio da inalação de aerossóis formados das excretas de roedores silvestres infectados. No Brasil, casos de SPCVH têm sido registrados em todo país, acometendo principalmente trabalhadores rurais. No entanto, são poucos os registros na Região Nordeste. Até o momento, o estado de Alagoas não possui registro de SPCVH, embora apresente condições favoráveis à circulação de hantavírus, como por exemplo: a substituição de Mata Atlântica pela cultura da cana-de-açúcar, na Mesorregião do Leste; o cultivo do milho, no Agreste e o clima seco presente na Mesorregião do Sertão alagoano. Assim, este estudo teve por objetivo levantar evidências da ocorrência de infecções humanas por hantavírus nas diferentes mesorregiões do estado de Alagoas. Para tanto, foi realizado inquérito sorológico em indivíduos saudáveis de três municípios das mesorregiões alagoanas: Coruripe, Mesorregião do Leste; Palmeira dos Índios, Agreste; e Olho DÁgua do Casado, Sertão, nas quais foram coletadas amostras de soro dos participantes para a pesquisa de anticorpos IgG contra a proteína N recombinante do hantavírus Araraquara (rN ARAV) através do ensaio imunoenzimático (ELISA) e dados epidemiológicos foram obtidos por meio da aplicação de questionários. As amostras foram consideradas positivas quando obtiveram títulos iguais ou acima de 200. Neste estudo foi incluído um total de 928 indivíduos, com média de idade de 35 anos (sd=16,62), mediana de 32 anos. Da mesorregião do Leste, participaram 704 voluntários, dos quais 54 possuíam anticorpos anti-rN ARAV (prevalência de 7,67%). No Agreste, participaram 155 voluntários, destes 3 possuíam os anticorpos pesquisados (prevalência de 1,94%). No Sertão, foram incluídos 69 participantes, dos quais 2 foram sororreagentes (prevalência de 2,9%). No total, a prevalência foi de 6,36% (59/928), com títulos de 200 a 3.200. Entre os sororreagentes, 72,35% relataram nunca ter estado em outro estado e 11,86% afirmaram ter sofrido de doença com insuficiência respiratória. O contato antigênico do ser humano com hantavírus induz anticorpos IgG de longa duração, ainda que não venha a desenvolver a SPCVH durante a infecção aguda. Os achados deste estudo indicam a ocorrência de infecções autóctones por hantavírus em Alagoas, inclusive entre indivíduos com história de doença respiratória no passado. Deste modo, tomados em conjunto, estes achados sugerem a circulação de hantavírus no estado e a ocorrência de infecções silenciosas, com sintomatologia inaparente ou ainda sintomática, mas sem diagnóstico. Este é o primeiro estudo que demonstra evidência sorológica de infecção humana pregressa por hantavírus nas três mesorregiões alagoanas, trazendo novos dados à epidemiologia da hantavirose no Nordeste.