Introdução: O registo da atividade elétrica diretamente sobre o córtex, denominada
eletrocorticografia, ocorreu por meio de dispositivo tipo aranha, com eletrodos
independentes, os quais, usualmente, eram chamados de “sixteen-channels”. Esse
dispositivo, de extrema utilidade, permitia registros eletrocorticográficos em distâncias
variáveis na superfície cortical e na profundidade de cavidades cirúrgicas. O mesmo,
entretanto, caiu em desuso na prática diária da maioria dos centros de cirurgia de
epilepsia, sendo gradualmente substituído por placas e estrias, cujo custo é muito alto
e não permite um bom registro na profundidade de cavidades cirúrgicas para a
realização de registros pós ressecção. Rigorosas regras de esterilização foram, aos
poucos, colocando de lado esta excelente possibilidade de se fazer eletrocorticografia.
Objetivos: Desenvolvimento de um dispositivo de ECoG tipo eletrodos independentes
ou tipo "aranha” com produção inteiramente nacional, com qualidade de registro dos
sinais, semelhante ao similar padrão ouro, importado, com custos de produção e
operação mais acessíveis e que cumpra com os padrões de exigência dos órgãos
reguladores de vigilância sanitária do nosso país. Métodos: Inicialmente foi escolhido
como padrão ouro um dispositivo tipo aranha, de produção de uma empresa
canadense chamada Hybex Innovations®. A partir do protótipo, foi desenvolvido um
similar com produção inteiramente nacional, chamado ECoG-Patriota, com diferentes
estruturas, materiais e ergometria, sempre buscando ideias e inovações que
tornassem esse dispositivo mais barato e com características que cumprissem com
as normas de esterilização do órgão de vigilância sanitários do Brasil. Foram
selecionados pacientes de uma reunião multidisciplinar do serviço de cirurgia de
epilepsia da Universidade Federal de São Paulo, os quais tiveram indicação de
realização de eletrocorticografia. Foram feitos registros pelos dois dispositivos numa
mesma região cortical, e os traçados foram analisados de forma cega, após a cirurgia,
por dois eletrofisiologistas experientes do grupo. Foram comparados, no final, os dois
dispositivos quanto à sua estrutura, e qualidade dos registros, os custos de produção
e operação, além da devida adequação do novo dispositivo às normas sanitárias de
esterilização do País. Resultados: Foi desenvolvido um dispositivo tipo aranha, com
vinte contatos e com o corpo do aparelho constituído de polímero de acido láctico
(PLA) e eletrodos com prata 925, maciços, com ponta com ouro e descartável. Foi
realizada eletrocorticografia com os dois dispositivos, por 10 minutos, nas mesmas
regiões no neocórtex temporal de cinco pacientes e, em seguida, operados pela
técnica de corticoamigdalohipocampectomias. Os traçados foram analisados por dois
eletrofisiologistas experientes que consideraram o traçado dos dois dispositivos
bastante similares. O custo de produção do ECoG Patriota foi vinte e três vezes mais
barato que o custo de comercialização, sem impostos de importação do dispositivo da
Hybex. O custo operacional do ECoG Patriota foi sete vezes menor, com o custo de
60 dólares pelos 16 eletrodos descartáveis por cirurgia. Pela viabilidade de descarte
dos eletrodos, a cada cirurgia, e a característica maciça dos mesmos, foi possível
adequar o sistema desenvolvido de acordo com as regras de vigilância sanitária.
Conclusões: Este trabalho atingiu o seu objetivo no sentido de desenvolver um
dispositivo de ECoG tipo eletrodos independentes ou “tipo aranha”, com produção
inteiramente nacional, e de qualidade de registro de sinais semelhantes ao modelo
similar importado, com custo de produção e operação significativamente menores,
cumprindo com todos os padrões de exigência dos órgãos reguladores responsáveis
pela fiscalização dos processos de esterilização de materiais da área de saúde.