Introdução: O hiperparatireoidismo terciário é uma condição clínica consequente do aumento da produção do paratormônio (PTH) devido a um período de exposição crônica ao hiperparatireoidismo secundário. É frequentemente observado em indivíduos transplantados renais, previamente portadores de hiperparatireoidismo secundário, que evoluíram com autonomização das glândulas paratireoides mesmo após o transplante renal. O principal tratamento do hiperparatireoidismo terciário é cirúrgico, sendo a queda do PTH intraoperatório um forte indício de cura cirúrgica do paciente. Objetivos: Avaliar o padrão de queda do PTH e Cálcio intraoperatório e estabelecer um valor limite que se possa predizer a cura do paciente. Método: Foi realizado um estudo retrospectivo de pacientes portadores de hiperparatireoidismo terciário, transplantados renais, acompanhados pela Disciplina de Nefrologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e tratados cirurgicamente pela Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, departamento de Cirurgia da Unicamp. Os pacientes foram submetidos a paratireoidectomia total com autoimplante de fragmentos de paratireoide em músculo deltoide. Foram dosados o PTH e Cálcio nos tempos pré-operatório (PTH basal e Ca basal), intraoperatório com 10 minutos (PTH-IO 10 e Ca 10) e 20 minutos (PTH-IO 20 e Ca 20) após a ressecção das glândulas, e pós-operatório de 240 minutos (PTH 240 e Ca 240), e comparados com a dosagem 1 ano após a cirurgia (PTH 1 ano e Ca 1 ano). Os dados foram analisados pelo teste de Mann-Whitney, ANOVA, e análise de regressão logística, com valores de significância estatística de p<0,05. Resultados: Trinta e cinco pacientes foram avaliados, sendo 17 mulheres (48,57%) e 18 homens (51,43%) com idade entre 25 e 66 anos, mediana de 50 (42,0-58,5) anos. Trinta e três (94,28%) pacientes foram considerados curados e 2 (5,71%) recidivados um ano após o tratamento cirúrgico. Na comparação do percentual de queda do PTH observamos significância estatística em todos os tempos coletados (PTH-IO 10: p=0,032; PTH-IO 20: p<0,001; PTH 240: p=0,003; PTH 1 ano: p<0,001), enquanto que na comparação dos valores de Cálcio não houve resultados estatisticamente significativos (Ca 10: p=0,914; Ca 20: p=0,406; Ca 240: p=529; Ca 1 ano: p=0,123). Ao aplicar modelo de regressão logística para estabelecer o tempo ideal para se predizer cura no intraoperatório, observamos que somente no PTH-IO 20 obtivemos resultado estatisticamente significativo (p=0,029). Através da análise da Curva ROC, o PTH-IO
20 obteve valor significativo (p=0,028) e, nesta variável, a queda do PTH equivalente a 71,2% obteve sensibilidade de 100% e especificidade 93,9% para se considerar o paciente curado cirurgicamente. Conclusões: Concluímos que o sucesso do tratamento cirúrgico pode ser previsto pela análise do padrão de queda do PTH intraoperatório e não pela queda do Cálcio. A queda de 71,2% do PTH intraoperatório aos 20 minutos após a paratireoidectomia possui altos valores de sensibilidade e especificidade para se predizer a cura cirúrgica.