Neste trabalho, busca-se analisar as representações simbólicas, sobretudo religiosas, que se manifestam na obra As crônicas de Nárnia - o Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, de Clive Staples Lewis, bem como na adaptação cinematográfica da mesma. Para tanto, estudam-se os elementos mitológicos e oriundos da religião cristã presentes na história, traçando-se um paralelo com as narrativas bíblicas. Além desses intertextos, considera-se que as influências que transitam entre a vida pessoal do autor e sua ficção também são pertinentes à pesquisa, uma vez que proporcionam um maior entendimento acerca da criação da obra. Por conseguinte, esta pesquisa propõe-se a compreender As crônicas de Nárnia do ponto de vista narrativo e simbólico. A fim de dar conta do primeiro aspecto, mobilizam-se conceitos pertinentes à teoria da narrativa, com base nos estudos de Motta (2013), D'Onofrio (2007), Leite (2002), Ricoeur (1994) e Nunes (1995). Abordam-se, portanto, questões como a do narrador, da ficção, da fábula, da trama e do tempo. Já para contemplar o segundo, no âmbito simbólico, desenvolvem-se os elementos do símbolo, do imaginário, do mito e da jornada do herói. Nesse momento, o apoio teórico se dá com McGrath (2013; 2014), Duriez (2005), Corso e Corso (2011), Campbell (1963), Paz (1993) e Eliade (1961; 1963). Também se utilizam os dicionários de símbolos de Chevalier e Gheerbrant (2012) e de Cirlot (1984). Assim, no que concerne à representação simbólica dentro da obra literária de Lewis, destacam-se a personagem de Aslam, por sua semelhança a Cristo e pelos sentidos míticos associados ao leão; as quatro crianças Pevensie, pela simbologia com o número quatro, tanto dentro da narrativa bíblica quanto na cultural; o menino Pedro, em especial, por seu caráter heroico; e a Feiticeira Branca, pelo intertexto com a personagem mitológica de Lilith, considerada enquanto personificação do mal. Considera-se, portanto, que a questão do simbolismo religioso enriquece a obra de Lewis por permitir diversas outras leituras e remontar a narrativas que, se vistas em convergência com As crônicas de Nárnia, ampliam as possibilidades interpretativas do texto ficcional.