Introdução: A prevalência de deficiência de vitamina D [25(OH)D] e sua relação com a
malária é pouco conhecida na Amazônia. Objetivos: Avaliar os níveis séricos de 25(OH)D
em pacientes com malária e verificar a associação com parâmetros clínicos e laboratoriais.
Materiais e Métodos: Estudo transversal analítico em 123 pacientes com malária e 122
indivíduos sem malária (grupo controle) em Itaituba, Pará, Brasil, no período de
janeiro/2018 a outubro/2019, com avaliação de dados sociodemográficos, estado
nutricional, clínico-epidemiológicos, parasitológicos e laboratoriais, adotando-se 5% como
nível de significância. Resultados: Não houve diferença significativa na prevalência de
deficiência de vitamina D entre pacientes com malária (28,5%) e grupo controle (24,6%).
A infecção pelo P. vivax foi de 91,9%, seguida pelo P. falciparum (8,1%). Pacientes com
malária que residiam no garimpo tiveram níveis séricos de 25(OH)D significativamente
menores que o grupo controle residente no garimpo. O consumo alimentar de vitamina D
(diário) foi significativamente maior no grupo com malária. O sobrepeso/obesidade e
hipertrigliceridemia foram fatores de risco para hipovitaminose D (casos e controles),
enquanto que o tempo de doença na malária foi fator de proteção para hipovitaminose D.
Os pacientes com malária apresentaram perfil lipídico [colesterol total (CT), HDL, LDL],
níveis séricos de cálcio (Ca), fósforo (P) e plaquetas significativamente menores e provas
de função hepática (exceto TGO) significativamente maiores que os controles. O eixo
cálcio-PTH-25(OH)D manteve-se atuante nos pacientes, evidenciado pela fraca, porém,
negativa e significativa correlação entre Ca e PTH e entre 25(OH)D e PTH. Os níveis
séricos de 25(OH)D teve correlação inversa com triglicerídeos (TG), TGP e idade. O
aumento da parasitemia por P. vivax influenciou na redução dos níveis de P, CT, HDL,
LDL, plaquetas e bilirrubinas (total, direta e indireta). Todavia, o aumento da parasitemia
por P. falciparum reduziu os níveis séricos de hemácias e LDL, e aumentou os níveis de
TG. O aumento da idade influenciou na elevação dos níveis séricos de CT, ureia, creatinina
e do IMC. O IMC elevado teve correlação positiva com os níveis séricos de CT e TG. A
hipertrigliceridemia apresentou relação inversa com os níveis de HDL e LDL, entretanto,
associou-se de forma positiva com os níveis de ureia sérica. O aumento das transaminases
(TGO e TGP) teve relação com a elevação dos níveis de fosfatase alcalina (FA). Pacientes
com infecção primária de malária apresentaram significativa leucopenia e aumento das
enzimas hepáticas (TGO e TGP) em relação aos pacientes com história anterior. O
aumento do tempo de doença atual apresentou relação com a plaquetopenia.
Considerações finais: Deficiência de vitamina D foi evidenciada em Itaituba, no Estado
do Pará, área endêmica de malária na Amazônia. Pacientes com malária podem apresentar
deficiência de 25(OH)D com alterações do eixo endócrino Ca-PTH-25(OH)D, do perfil
lipídico, das provas de função hepática, das provas de função renais e alterações
hematológicas e desse modo vir a influenciar o curso clínico da malária.