A América do Sul e principalmente, a bacia amazônica, tem sido alvo de uma grande
quantidade de estudos sobre a sua história paleogeográfica e paleoambiental, com o
objetivo de compreender as condições históricas que deram origem a uma das maiores
concentrações de biodiversidade do planeta. Porém, estudos como estes, são pouco
desenvolvidos nas regiões costeiras do nordeste brasileiro. Com isso, este estudo teve por
objetivo identificar os principais eventos biogeográficos responsáveis pela distribuição
dos peixes de água doce nas bacias hidrográficas do Maranhão, uma área pouco conhecida
da região Neotropical, e explicar suas atuações na dispersão, extinção e especiação dessas
espécies na região. Os eventos de incursões e regressões marinhas são conhecidos como
de grande influência para o desenho da paisagem da região costeira do Brasil, com isso,
buscamos identificar o grau de influência desses eventos para a região alvo do estudo e
comparar com seus efeitos em bacias adjacentes. O levantamento das espécies de peixes
de água doce listadas para as drenagens maranhenses foi realizado a fim de avaliar a
riqueza e a composição de espécies por meio de métodos paleogeográficos e de
filogenética de comunidade. Análises genéticas também foram utilizadas em duas
espécies da região, buscando avaliar a existência de diferenciação entre populações de
diferentes bacias e quais eventos foram responsáveis por tal processo. Por fim, realizamos
uma revisão sobre os dados geomorfológicos publicados até o momento, que podem ter
contribuído no processo de distribuição dos peixes de água doce no Maranhão e
consequente processo de diferenciação de suas espécies. Assim, identificamos que as
bacias maranhenses, da mesma forma que a bacia do Amazonas, foram fortemente
influenciadas pelos eventos de variação do nível do mar, fator que se deve principalmente
à composição da área através de planícies de baixa altitude. Apresentamos a lista
taxonômica mais extensa até o momento para as bacias maranhenses, com um total de
160 espécies e identificamos que as bacias do Mearim e Itapecuru foram ocupadas há
aproximadamente 9 Ma, servindo de fonte para a formação das assembleias das demais
bacias. Através das análises genéticas empregadas, identificamos que populações
oriundas da bacia do Turiaçu estão se diferenciando das demais, enquanto populações das
demais bacias ainda apresentam grande proximidade genética. Com base nesses
resultados, verificamos que a composição e distribuição de peixes de água doce nas bacias
hidrográficas do Maranhão foi influenciada principalmente pelos eventos de
transgressões e regressões marinhas, assim como pela formação de paleodrenagens,
ativações e reativações de falhas, arcos e lineamento, pelo soerguimento da Serra do
Tiracambu e por eventos de capturas de rios. Além disso, podemos inferir que os
processos de dispersão, diferenciação e extinção ainda estão em andamento,
demonstrando a importância da compreensão desses eventos biogeográficos aliados aos
estudos da biologia e ecologia das espécies, para a elucidação de suas histórias evolutivas.