Introdução: As inabilidades de cunho auditivo manifestam-se de diversas maneiras, e a
qualidade do processamento da informação auditiva se constitui como um dos fatores que
podem influenciar a gagueira. Assim, considerando-se as evidências científicas que sustentam
a hipótese de que indivíduos que gaguejam apresentam conexões atípicas em regiões auditivas
do hemisfério esquerdo, é possível presumir que as alterações do processamento temporal
podem estar relacionadas a esse distúrbio. Objetivo: Comparar e correlacionar o desempenho
do processamento temporal e o comportamento auditivo entre os subgrupos de escolares com
gagueira. Método: Neste estudo, foram adotados alguns critérios para a seleção da amostra,
dentre os quais se ressalta mínimo de 3% de disfluências típicas da gagueira; limiares
audiométricos dentro dos padrões de normalidade; curva timpanométrica do tipo A; reflexos
acústicos estapedianos contralaterais presentes e preferência manual direita. Após a aplicação
dos critérios de elegibilidade, a casuística foi constituída por 26 crianças falantes nativas do
Português Brasileiro, na faixa etária de sete a 11 anos e 11 meses, de ambos os sexos, divididas
em dois grupos, sendo: Grupo Pesquisa 1 (GP1), composto por 13 escolares com gagueira leve,
e Grupo Pesquisa 2 (GP2), composto por 13 escolares com gagueira grave. Os procedimentos
metodológicos adotados foram: avaliação e confiabilidade da fluência, classificação da
gravidade da gagueira (Stuttering Severity Instrument – SSI-3), aplicação do instrumento de
triagem do comportamento auditivo (Scale of Auditory Behaviors – SAB), e avaliação
comportamental do processamento auditivo temporal (Teste Padrão de Frequência, na etapa de
Imitação (TPF-I) e na etapa de Nomeação (TPF-N); Teste Padrão de Duração, na etapa de
Imitação (TPD-I) e na etapa de Nomeação (TPD-N); e Random Gap Detection Test (RGDT).
Na análise estatística intergrupo, foi empregado o teste de “Mann-Whitney”, e nas análises de
correlação para variáveis com distribuições não paramétricas, utilizou-se o Coeficiente de
Spearman. Admitiu-se nível de significância igual ou menor a 5% (p ≤ 0,05). Resultados: Os
resultados mostraram que não houve diferença estatística na comparação entre o GP1 e o GP2
para o desempenho dos testes temporais e para o escore do questionário SAB. Não foi
encontrada nenhuma correlação entre o desempenho do processamento auditivo temporal e o
escore da duração do SSI-3. Houve correlação entre o TPF-N e o escore total do SSI-3 para o
GP1 e entre o TPD-I, TPD-N e RGDT para o GP2. Ainda para o GP2, foi encontrada correlação
entre o escore do questionário SAB e o escore total do SSI-3; e entre o escore do questionário
SAB e o desempenho no TPD-I e no TPD-N. Para o total dos escolares, essa correlação foi
encontrada apenas no TPF-I e no TPD-N. Conclusão: Na população estudada, o desempenho
no processamento auditivo temporal se relacionou com a gravidade da gagueira e com o escore
no questionário SAB.