O Efeito Memória de Forma (EMF) e a Pseudoelasticidade (PE) são os dois
comportamentos termomecânicos típicos das Ligas com Memória de Forma (LMF), que
compõem uma família de materiais classificados como materiais inteligentes. Em
ambos os comportamentos, a principal característica é a capacidade do material sofrer
deformações recuperáveis de até 10%. No caso da PE, essa recuperação acontece com a
retirada da carga que induziu a deformação, e no caso do EMF, a recuperação se dá por
meio do aquecimento do material acima de determinada temperatura característica e
inerente ao material. Essa recuperação de deformação está associada a transformações
martensíticas induzidas mecanicamente, na PE, e termicamente, no EMF. Esses dois
comportamentos têm grande potencial em diversas áreas comerciais e de pesquisa. Em
aplicações nas quais o material é submetido a carregamentos mecânicos (PE) ou
termomecânicos (EMF) cíclicos, observa-se a ocorrência de fadiga estrutural e fadiga
funcional, sendo a funcional caracterizada pela alteração de propriedades materiais ao
longo da ciclagem. O objetivo do presente trabalho é avaliar a influência do tratamento
criogênico profundo do ponto de vista microestrutural da liga Ni57Ti43 submetida à
ciclagem mecânica. Corpos de prova dessa liga não tratados e tratados criogenicamente,
a -196ºC por 24 horas, foram submetidos a carregamentos mecânicos cíclicos até a
ruptura. No comportamento pseudoelástico, observou-se que o material tratado
criogenicamente apresentou aumento na deformação residual e deformação recuperável
quando comparado ao material considerado como recebido. Além disso, houve uma
diminuição nos níveis de tensão de transformação ao longo das ciclagens tanto para os
tratados quanto para os não tratados. Mas em relação à fadiga estrutural, os materiais
tratados criogenicamente apresentaram vida à fadiga menor quando comparados aos
corpos de prova do material como recebido. A partir desses resultados e, por meio de
ensaios de microdureza, DRX e EDS buscou-se compreender nesse trabalho as
alterações observadas. Observou-se que o tratamento criogênico não alterou a estrutura
cristalina do material, mantendo a estrutura cúbica B2 com precipitados de mesma
composição. Entretanto, observou-se a formação pontual de óxidos possivelmente
associados ao TiNiO3 e um aumento da microdureza em torno de 4% após o tratamento
criogênico. Nas amostras tratadas e após cicladas, observou-se, a partir da morfologia
microestrutural e ensaios DRX, a presença de martensita residual. Na análise de falha
dos corpos de prova, verificou-se que tanto as amostras tratadas quanto as não tratadas
apresentaram as mesmas características, isto é, presença de estrias de fadiga e dimples,
dando sinais de que a falha foi dúctil e ocorreu por sobrecarga da região. Da análise dos
resultados, conclui-se que o comportamento pseudoelástico da liga Ni57Ti43 foi afetado
pelo tratamento criogênico profundo, a -196ºC por 24 horas, e que as alterações
observadas devem estar associadas, principalmente, à formação dos óxidos
identificados, de modo que podem justificar tanto a menor vida à fadiga quanto os
comportamentos associados à deformação residual e diminuição das tensões de
transformação.