A obesidade representa atualmente uma das maiores ameaças à saúde humana, sendo alvo de
inúmeras abordagens terapêuticas. A cirurgia bariátrica constitui a forma mais eficaz de
intervenção na obesidade mórbida, provocando perda de peso efetiva a longo prazo e melhora
das comorbidades. Entre as diversas técnicas cirúrgicas utilizadas, a gastrectomia vertical (GV)
destaca-se como procedimento que mais cresce no Brasil e no mundo, sendo liberada como
procedimento único relativamente recente no Brasil. Estudos avaliando o impacto dessa
cirurgia a curto, médio e longo prazo são escassos em nosso país, especialmente no que diz
respeito aos efeitos sobre sono, comportamento alimentar e parâmetros metabólicos dos
indivíduos a ela submetidos. Nessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo verificar
o impacto a curto prazo (1º e 4º mês pós-cirúrgico) da GV sobre o sono, comportamento
alimentar e parâmetros metabólicos de obesos submetidos a esse procedimento. Utilizando um
delineamento quase experimental, descritivo e analítico, 14 voluntários (6 homens e 8 mulheres
com idades entre 21 e 48 anos, M= 35,57; DP= 7,33) foram submetidos à GV participando em
dois momentos da pesquisa: etapa pré-operatória (1ª semana antes da cirurgia) e pós-operatória
(1º e 4º mês após a cirurgia). Para avaliação dos parâmetros clínicos e metabólicos dos
participantes utilizaram-se: exames laboratoriais, Questionário padrão para identificação de
Cronotipos, Questionário Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh, Escala de Sonolência de
Epworth, Questionário da Síndrome do Comer Noturno, Escala de Compulsão Alimentar
Periódica. Os resultados demonstraram uma correlação negativa e significativa entre a
síndrome do comer noturno (SCN) e o percentual de perda de excesso de peso (%PEP) no 1º
mês pós-operatório (PO) (Rô = -0,75; p = 0,019). No 4º mês PO verificou-se melhora na
qualidade do sono com redução significativa no escore total da qualidade do sono (Z = -2,01; p
= 0,023) e também redução estatisticamente significativa da sonolência excessiva diurna (Z = -
2,20; p = 0,016). Observou-se também uma diminuição significativa no escore total da escala
de compulsão alimentar periódica (Z = -2,38; p = 0,008) nesse período. Não foram identificadas
mudanças significativas no perfil glicêmico e lipídico entre o 1º e 4º mês PO sendo observado,
no entanto, redução estatisticamente significativa das enzimas hepáticas (AST/ALT), do IMC
e %PEP. Os resultados evidenciaram que a GV afeta positivamente a qualidade do sono e a
sonolência excessiva diurna, bem como, os sintomas de compulsão alimentar periódica e as
transaminases (AST/ALT) dentro do 4º mês após a cirurgia. Além disso, verificou-se que a
SCN dificulta a perda percentual de peso no 1º mês PO, demandando maior atenção. Esses
achados sugerem que a GV pode acarretar mudanças benéficas e significativas sobre o sono,comportamento alimentar e função hepática de obesos já no 4º mês após o procedimento
cirúrgico, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e redução da morbimortalidade
nessa população.