Esta tese propõe ser continuação do trabalho realizado no mestrado intitulado Constância da
retórica, mudança de estilo: a obra acadêmica de Cláudio Manuel da Costa (2009), o qual
estabeleceu um corpus de parte da obra do poeta mineiro, produzida por ele na condição de
integrante do corpo de acadêmicos supranumerários da Academia Brasílica dos Renascidos, em
1759, e, a partir dessa coleta, realizaram-se estudos acerca da retórica e da poética que
orientaram esses trabalhos. Ora, visando a determinar os elementos essenciais para a construção
do poema Vila Rica, publicado em 1839, contextualizou-se o período de transição barrocoárcade
e procedeu-se a uma analise documental, pela qual foram colocados em debate os textossuporte
que embasaram a produção do poema e do Fundamento Histórico, preliminação que
acompanha a obra. Em outra perspectiva, tratando já de questões internas ao texto poético,
procurou-se analisar sua estrutura a partir de uma classificação que o enquadrasse no modelo
geral de um poema épico. Deste modo, o conceito de epopeia foi debatido em sua estrutura
geral. As discussões que se seguem ampliam os estudos acerca das atividades dos acadêmicos e
permitem observar as múltiplas faces do letrado, autor do poema Vila Rica. Confrontando o
poema ao seu Fundamento Histórico, estabeleceu-se como tese defender a presença dos dados
documentais que mitificam o objeto do poema e denunciam a relação entre a composição da
obra Vila Rica e a participação do seu autor como acadêmico correspondente da capitania das
Minas Gerais na Academia Brasílica dos Renascidos (1759). Assim, o primeiro capítulo trata do
Arcadismo, ressaltando a necessidade de um olhar filológico e crítico sobre o texto do
Fundamento Histórico e da exposição dos panoramas histórico, político e filosófico que
apontam para essa fase na escrita da América portuguesa, principalmente no que diz respeito às
mudanças no âmbito da educação e da própria estrutura das academias letradas. O segundo
capítulo coloca Cláudio Manuel da Costa no eixo da discussão, explorando sua biografia e a
transição de estéticas verificada em sua produção - seu lado poeta e seu lado acadêmico. O
terceiro capítulo trata do poema Vila Rica e das dificuldades de se produzir um poema épico
no Brasil. Associando o poema ao contexto, observa-se a política das mercês no âmbito das
letras, em especial, discutem-se as intenções de louvor e propaganda no poema Vila Rica e
em seus textos anexos - além de comprovar o vínculo do poema Vila Rica às propostas da
Academia Brasílica dos Renascidos, por intermédio das correspondências trocadas entre os
membros da agremiação. A escrita do poeta mineiro revela fortes marcas dessas práticas
laudatórias e na construção do Fundamento Histórico nota-se o empenho de Cláudio Manuel
da Costa na construção de um mito, no qual possa extrair o tema de um poema épico. O quarto
capítulo explora a relação entre história e verossimilhança, durante a análise do Fundamento
Histórico, de acordo com suas fontes, explícitas e não explícitas, mas que podem auxiliar na
compreensão do momento histórico narrado no poema e no Fundamento Histórico,
culminando com a demonstração da presença do mito necessário para a existência do poema
Vila Rica segundo preceitos das poéticas clássicas. Esse processo evidencia a combinação do
engenho do poeta com a arte do ex-acadêmico supranumerário da Academia Brasílica dos
Renascidos.