Objetivo: Estudar, em crianças escolares com e sem transtorno de leitura, o processamento de linguagem, quanto a suas características de tempo e precisão de acesso e inibição do significado de palavras, e investigar possíveis associações com habilidades cognitivo-linguísticas preditoras da compreensão leitora. Método: Estudo experimental, prospectivo, quantitativo, aprovado pelo CEP/UNIFESP-HSP. Participaram 82 escolares do 5º ano sem queixa de leitura (46 de escola pública – G1) e 36 de escola particular – G2) e 19 crianças com transtorno específico de leitura (G3). Foram, inicialmente, avaliados quanto a habilidades cognitivo-linguísticas de linguagem oral e de leitura. Foram apresentadas figuras de homônimos isolados e em frases acompanhados, ou não de distratores auditivos. O intervalo inter-estímulos adotado foi de 250ms. Experimento 1: investigou-se a precisão e o tempo de acesso aos homônimos apresentados isoladamente. O efeito de priming foi calculado pela comparação das condições relacionadas (significados mais e menos recorrentes) com as não relacionadas (distratores). Experimento 2: investigou-se a precisão e o tempo para o acesso semântico dos homônimos apresentados em sentenças. Calculou-se o efeito de priming comparando as frases das condições apropriadas e das inapropriadas. Os resultados de desempenhos nas tarefas de linguagem, leitura e priming foram comparados entre os grupos e buscaram-se correlações. Os Testes de Kruskal-Wallis, ANOVA, teste Post-hoc de Bonferroni, análise de variância e correlação de Pearson foram aplicados; O nível de significância estatística adotado foi fixado em 0,05. Resultados: Os grupos não se diferenciaram quanto a compreensão oral, memória operacional e fluência verbal. G3 mostrou desempenho semelhante a G1 em vocabulário receptivo, fluência semântica, memória fonológica de curto prazo, e compreensão de leitura. Experimento 1: O número de acertos na condição de homônimo mais recorrente foi maior que na condição de menor ocorrência (G1 e G2) e do que o seu distrator (G1 e G3). Houve efeito de priming, nos três grupos, na condição de homônimo mais recorrente comparado ao distrator e na comparação de homônimos de maior e menor ocorrência. Experimento 2: Não se observaram diferenças dos grupos na precisão da nomeação. No que diz respeito ao tempo, houve efeito de priming nas condições inapropriadas e de menor ocorrência, sendo que o desempenho de G1 foi igual a de G2 e G3 apresentou maior tempo na nomeação que G1. Conclusões: O priming semântico facilitou o acesso à informação do homônimo, tanto quando foi apresentado isoladamente quanto na apresentação ao final de frase. Quando relacionado ao alvo, o tempo de nomeação foi menor, facilitando o acesso semântico. Além disso, crianças com transtorno de leitura apresentaram dificuldade em inibir informações irrelevantes. As habilidades cognitivo-linguísticas, mostraram-se essenciais para o bom desempenho nos processos de acesso e inibição semântico.