Espécies do gênero Aspergillus são responsáveis pela segunda e/ou terceira maior
ocorrência de infecções fúngicas invasivas (IFIs) em hospitais terciários. Na prática
clínica, essas infecções são difíceis de diagnosticar e o tratamento tardio é muito
frequente. Poucos centros médicos têm capacitação para realizar a identificação
acurada de espécies deste gênero de fungos, visto que a formação em micologia
clássica, bem como o domínio e disponibilidade de técnicas moleculares são requeridas
para este diagnóstico. Os casos de resistência a antifúngicos não são comuns na
medicina contemporânea, mas o número de isolados resistentes e fracasso terapêutico
têm aumentado significativamente nas últimas décadas. São escassos os dados no
Brasil sobre a prevalência de espécies de Aspergillus e seu perfil de susceptibilidade a
antifúngicos. O presente estudo teve como objetivos analisar a distribuição das
espécies do gênero Aspergillus em 150 amostras clínicas/ambientais e avaliar a
ocorrência de cepas com valores de CIMs superiores ao cut-off epidemiológico proposto
aos antifúngicos comumente utilizados. A identificação de espécies do gênero
Aspergillus foi realizada pela abordagem polifásica, a qual inclui análise macro e
micromorfológica, termotolerância, sequenciamento e filogenia se necessário, (região
ITS do rDNA e dos genes calmodulina e β-tubulina). Os isolados também foram
avaliados quanto à tolerância a cloreto de sódio (5% e 10%), cicloheximida (0,1% e 0,5
%) e produção de ácidos orgânicos em CREA e ácido aspergílico em AFPA. Foi
avaliado o perfil de susceptibilidade in vitro dos 150 isolados frente a triazólicos
(itraconazol, voriconazol e posaconazol) utilizando 2 diferentes métodos: microdiluição
em caldo e E-test. Os isolados com valores de cut-off superiores aos estabelecidos,
também foram testados frente a anfotericina B, caspofungina e anidulafungina. A
caracterização fenotípica, assim como o sequenciamento da região ITS separou os
isolados em nove seções, a saber: Circumdati, Clavati, Flavi, Flavipedes, Fumigati,
Nidulantes, Nigri, Terrei e Usti. Utilizando a abordagem polifásica, 141/150 isolados
foram identificados em nível de espécie. Com a abordagem realizada, não foi possível
identificar 3/43 isolados pertencentes à seção Flavi e 6/17 da seção Nigri. Com relação
aos triazólicos testados, 141/150 isolados apresentaram valores de CIMs menores ou iguais ao cut-off epidemiológico estabelecido utilizando a metodologia padronizada.
Dentre os isolados, 1/9 Circumdati, 1/9 Usti, 1/9 Nigri, 4/9 Fumigati e 2/9 Flavi
apresentaram valores mais elevados frente a estes antifúngicos; 2/9 apresentaram
valores de CIM elevados também frente à anfotericina B (N. pseudofischeri e A.
ochraceus). Somente o isolado de A. calidoustus apresentou valor de CIM elevado
frente à caspofungina. Todos os nove isolados testados frente à anidulafungina
apresentaram como valor de CIM a menor concentração testada deste fármaco,
demonstrando sua ótima atividade in vitro. A falta de padronização da metodologia de
E-test®, dificultou sua execução e avaliação do teste, principalmente no que diz
respeito à leitura, prejudicando, assim, o estabelecimento de taxas de correlação entre
as duas metodologias testadas. Esta taxa foi classificada como marginal quando
consideramos como equivalentes valores de ± uma diluição e as taxas tornam-se
aceitáveis quando consideramos como equivalentes valores de ± duas diluições. Os
dados observados reforçam a importância na identificação acurada de espécies de
Aspergillus, visto que encontramos um número substancial de espécies crípticas que
apresentam variações no perfil de susceptibilidade entre os isolados aos antifúngicos
comumente utilizados. Neste contexto, demonstramos a importância na padronização
da metodologia de E-test® para aumentar a confiabilidade do teste.