A presente dissertação teve como objetivo analisar como o docente masculino de Educação
Infantil se percebe e é percebido no espaço escolar no contexto da Amazônia paraense. Como
objetivos específicos pretende-se traçar o perfil destes docentes com base nas suas trajetórias
profissionais; identificar as condições objetivas de permanência como docentes de crianças
pequenas; compreender seu processo de imersão nos contextos de trabalho a partir de si mesmo
e da comunidade escolar e, verificar a existência de uma prática pedagógica particularizada em
função do ser docente masculino, bem como seus possíveis desdobramentos nessa realidade. O
referencial teórico baseia-se em Vigotski e estudiosos que abordam os temas em questão, tais
como Sayão (2005), Sousa (2011) e Moreno (2017). A pesquisa é de abordagem qualitativa, do
tipo estudo de casos múltiplos, tendo como sujeitos principais os três docentes que estão
atuando na pré-escola com crianças de 04 anos em instituições públicas da zona urbana do
município de Oriximiná/PA. A construção de dados deu-se pela técnica da entrevista
semiestruturada, gravada em áudio, aplicada com os docentes investigados e com
representantes dos demais segmentos da comunidade escolar. As entrevistas com as crianças
foram diferenciadas e realizadas coletivamente. Para a análise dos dados foi utilizada a técnica
de análise de conteúdo baseada nos estudos de Bardin (2006). Em relação a auto percepção dos
docentes masculinos pesquisados, os resultados evidenciam que todos eles percebem obstáculos
no processo de imersão nas instituições, sendo recebidos nas primeiras escolas de Educação
Infantil com olhares duvidosos, vivenciando situações de preconceito dentro do contexto
escolar. Também enfrentaram desafios, sendo o principal deles o acompanhamento das crianças
ao banheiro, atitude compreendida como inadequada até mesmo por eles e evitada por todos na
escola. Além disso, o desenvolvimento de atividades que envolvem ações socialmente
associadas ao feminino, como dançar, cantar e pular, também são alvo de questionamentos.
Fatores como seriedade, respeito e “domínio de classe” foram apontados pelos professores
como características próprias de um docente masculino para atuar em turmas de Educação
Infantil, induzindo a uma visão conservadora de que o homem é mais impositivo, severo e
dominador. No que se refere à percepção da comunidade escolar, a maioria dos sujeitos adultos
entrevistados vê como natural a presença masculina na docência na escola da infância. Na
categoria das professoras foi onde se percebeu a maior divergência de opiniões quanto a
presença masculina na escola, com destaque para a afirmação de que as mulheres têm mais
habilidades para atuar nas salas de atividades com crianças pequenas e que os colegas homens
não têm aquele “jeitinho” que estas turmas necessitam para um trabalho de qualidade. Quanto
a percepção dos familiares das crianças, todos afirmaram ver com naturalidade um homem
ocupando a função de docente de seus filhos e filhas e que apesar do receio inicial, em função
dos inúmeros casos de abusos contra menores divulgados pela mídia, após acompanharem o
trabalho destes profissionais foram se tranquilizando. Entre as crianças, ficou evidente que o
mais importante não é o sexo do professor, mas sua capacidade de interagir e desenvolver
atividades que tornem as experiências de aprendizagem significativas. Foi nessa categoria onde
se percebeu a maior aceitação dos docentes masculinos, o que leva a crer que as crianças ainda
não estão carregadas com as marcas históricas construídas socialmente de que homens não
devem ser professores na Educação Infantil. A partir dos resultados apresentados, acredita-se
que a temática discutida neste estudo deve ser trabalhada transversalmente nos cursos de
formação inicial e continuada, especialmente na licenciatura em pedagogia, uma vez que a
discussão desses elementos influi diretamente no exercício profissional dos/as professores/as.