A infecção pelo ectoparasito crustáceo Lernaea cyprinacea destaca-se pelo prejuízo econômico causado em pisciculturas catarinenses e brasileiras, ao inviabilizar a comercialização dos animais, uma vez que, ao fixar-se no peixe, provoca lesões severas em seu tegumento deixando-o com um aspecto repugnante. Uma das espécies-alvo deste crustáceo é o jundiá Rhamdia quelen, que vem atraindo a atenção dos produtores de Santa Catarina por conta da facilidade com que se reproduz em cativeiro, boa conversão alimentar e a positiva aceitação dessa espécie pelo mercado consumidor. Apesar disso, o sucesso da criação de peixes é resultado direto de uma série de fatores que estão estreitamente ligados ao seu bem-estar. Tais fatores, quando não acompanhados e controlados, podem gerar situações de estresse ao ponto de reduzir o desempenho zootécnico dos animais e predispô-los ao aparecimento de enfermidades oportunistas. Ainda que pertença a um grupo tão patogênico, é notória a falta de estudos que detalham características básicas e específicas relacionadas aos diferentes aspectos do parasitismo por L. cyprinacea, além de avaliações que investiguem o potencial de tratamentos alternativos frente a essa enfermidade. Sendo assim, treze jundiás R. quelen reprodutores intensamente parasitados por L. cypriancea com prevalência de 100%, intensidade média de 192,38 e abundância média de 192,38 foram coletados da Unidade de Melhoramento Genético de Peixes (Epagri/Cedap - Camboriú) e transportados até o Laboratório AQUOS (Florianópolis/SC). Após o período de aclimatação, os animais foram anestesiados com Eugenol (75 mg L-1). O sangue coletado por punção do vaso caudal para contagem de trombócitos, leucócitos totais, diferencial de leucócitos e quantificação de eritrócitos totais. Em seguida, os animais foram eutanasiados, os parasitos removidos, quantificados e fixados de acordo com o tipo de análise, e as porções do tegumento atingidas fixadas em formalina 10% tamponada. Realizou-se microscopia eletrônica de varredura (SEM) dos parasitos, microscopia de contraste de fases (DIC) e amplificação em PCR dos espécimes. Finalmente, para avaliação dos tratamentos alternativos, foram utilizados, separadamente, por Concentração Inibitória Mediana (CIM – in vitro), os óleos nanoemulsionados da acícula e da resina do pinheiro Pinus sp., além do produto comercial biodegradável à base de biomassa crítica Biogermex®. Foram avaliadas as mortalidades das duas fases larvais de L. cyprinacea (náuplio e copepodito) para cada composto testado. Com base nos melhores resultados para cada fase larvar, seguiu-se para o teste in vivo (CL50 96 h) utilizando alevinos de jundiá R. quelen (1,13 ± 0,33 g de peso e 5,07 ± 0,63 cm de comprimento). O perfil hematológico dos animais se mostrou diferente do reportado para animais saudáveis. Os valores de leucócitos totais mostraram correlação significativa (p<0,05) e positiva com a intensidade parasitária e o peso dos animais. A quantidade de neutrófilos e trombócitos circulantes no sangue mantiveram-se abaixo do normal, caracterizando um cenário de neutropenia e trombocitopenia, respectivamente. Mais ainda, a quantidade de leucócitos imaturos registrada mostrou-se muito acima do normal registrado para R. quelen adultos de mesma idade. Desta forma, é possível perceber a rápida produção de leucócitos pelos órgãos hematopoiéticos ao tentar combater o forte parasitismo provocado pela L. cyprinacea. Em análise histológica do tecido do animal, foi possível observar o acúmulo de neutrófilos próximo ao local de infecção pelo parasito, concordando com a ausência deste tipo celular no fluxo sanguíneo dos peixes analisados. As alterações de grau leve relatadas foram infiltrado eosinofílico, alargamento dos tecidos subcutâneo e conjuntivo, atrofia da fibra muscular, perda do tecido muscular, necrose do tecido conjuntivo, necrose liquefativa, fibrose, hemorragia, congestão, hipertrofia e hiperplasia das células de muco, alargamento e erosão do tecido epitelial, redução da espessura da epiderme e perda de células de muco. Em grau moderado, pôde-se observar inflamação mono e polimorfonuclear, infiltrado leucocitário, extravasamento de sangue e desarranjo do tecido conjuntivo, necrose epitelial e hipertrofia das células de alarme. Já em grau severo foi relatado hiperplasia das células de alarme, ou seja, o aumento na quantidade deste tipo celular. As sequencias parciais do RNA ribossomal 18S e da região hipervariável D1-D2 do RNA ribossomal 28S foram amplificadas por PCR, sendo os iniciadores específicos de L. cyprinacea, capazes de produzir amplicons com o tamanho esperado para ambos os genes (≅ 1460 e 690 pares de base para 18S e 28S, respectivamente). Tal resultado concorda com trabalhos anteriores e estão em conformidade com as características morfológicas encontradas nos espécimes analisados em SEM e DIC. Os óleos nanoemulsionados da acícula e da resina de Pinus sp. foram capazes de inibir náuplios de L. cyprinacea em concentrações que variaram de 10 a 19,5 mg L-1. Apesar da pequena faixa de variação entre eles, o óleo da resina demonstrou maior consistência ao manter-se estável durante as 24 h do início dos testes. O melhor resultado para copepoditos, no entanto, veio do Biogermex®, o qual inibiu a segunda fase larvar de L. cyprinacea em uma faixa que variou entre 30,5 e 244 mg L-1, de acordo com o tempo de análise. O composto majoritário dos óleos (α-Pineno), assim como os demais controles testados, não apresentaram eficácia individualmente para eliminar as larvas de L. cyprinacea em baixas concentrações, sugerindo que o sinergismo entre o α-Pineno e os demais compostos foram os reais causadores dos efeitos adversos sobre as larvas do parasito. Em ensaio in vivo, a análise dos dados segundo o método estatístico utilizado indicou a concentração de 12,75 e 16,74 mg L-1 como a CL50 96 h do Biogermex® e da acícula de Pinus sp., respectivamente, em alevinos de jundiá. Tal resultado indica um potencial de uso da nanoemulsão do óleo da acícula de Pinus sp. como agente profiláticos contra náuplios de L. cyprinacea