Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a mídia latino-americana e a instabilidade política na América Latina. Especificamente, analisaremos a cobertura midiática internacional sobre a Assembleia Constituinte convocada por Nicolás Maduro, em 2017, na Venezuela. Para tanto, recolhemos os títulos de notícias das primeiras páginas de versões impressas de quatro jornais, oriundos de diferentes países da América Latina, e a agência de notícias da qual a notícia é originaria, quando disponível. São eles: o brasileiro O Globo; El Universal, do México; Clarín, da Argentina; El Tiempo, da Colômbia. A partir de um estudo da Economia Política da Comunicação, presente em autores como Dênis de Moraes e Pedro Aguiar, realizamos uma abordagem sobre a instabilidade política na região – amplamente discutida por Aníbal Pérez-Liñán e André Coelho – e a ascensão do neoliberalismo, discutida por Pierre Dardot e Christian Laval, para uma compreensão geral sobre a distribuição e circulação de notícias internacionalmente em um contexto de domínio de grandes conglomerados da mídia. Os dados recolhidos serão analisados, ainda, através de uma contextualização do governo de Nicolás Maduro e da situação concreta venezuelana desde a ascensão do chavismo, debatida, por exemplo, por Mayra Goulart, Margarita López Maya, Gilberto Maringoni e Leonardo Valente. Reconhecendo a predominância de notícias vindas de agências de notícias com sede em países centrais – como Reuters, AFP, AP ou EFE – percebemos como a narrativa sobre a Venezuela repercutida pela América Latina é, nesses grandes jornais, importada e, consequentemente, reproduz o olhar e os interesses do Norte. Ressaltamos, dessa forma, a importância de países do Sul serem agentes e narradores de suas próprias realidades sem depender, devido a recursos financeiros e sociais, do discurso que provém de países desenvolvidos, refletindo outros interesses.