Após perturbações inesperadas (i.e. tropeço ou escorregão), a capacidade de readequar o controle
postural está notadamente diminuída em idosos, devido a deficiências cumulativas relacionadas ao
envelhecimento, podendo acarretar aumento da incidência de quedas. Devido a isto, são necessárias
intervenções que ajam sobre o controle postural de idosos com a finalidade de aumentar a
capacidade de recuperação do equilíbrio frente a essas perturbações. Dessa forma, o objetivo desse
estudo foi avaliar os efeitos do treinamento de equilíbrio e destreinamento, sobre o controle postural
reativo de idosas da comunidade, por meio de um teste de perturbação abrupta. Trata-se de um
ensaio clínico controlado e randomizado, no qual participaram idosas ativas, saudáveis, não
institucionalizadas (n=41), que foram divididas em 2 grupos: grupo exercício (GE, n=21, 67,0 ± 2,0
anos) que realizou o treinamento de equilíbrio, 3 vezes por semana, durante 6 semanas e grupo
controle (GC, n=20, 67,9 ± 3,1 anos) que participou de palestras sobre prevenção de quedas e
hábitos de vida saudáveis. O protocolo de exercícios utilizado foi composto por um circuito de seis
dispositivos instáveis, sendo eles: disco proprioceptivo, balancim, Bosu®, Bosu invertido
pranchade equilíbrio e mini-trampolim. Foram realizadas 4 repetições de 1 minuto de duração em cada
dispositivo. A amplitude de deslocamento do centro de pressão (CP) e a atividade eletromiográfica
(EMG) (tempo de reação muscular, tempo ao pico de ativação EMG e amplitude EMG (0-200, 201400
e 401-600ms) dos músculos reto femoral (RF), vasto medial oblíquo (VMO), tibial anterior
(TA), semitendinoso (ST), gastrocnêmio medial (GM) e sóleo (SO) foram avaliados durante um
teste de perturbação abrupta nos sentidos anteroposterior e posteroanterior. A falha de ativação
central (CAR) dos músculos dorsiflexores e flexores plantares de tornozelo e o tempo do teste de
mobilidade funcional Timed Up & Go Test (TUG) também foram avaliados. Todas as variáveis
foram analisadas antes, imediatamente após o treinamento e 6 semanas após o treinamento
(destreinamento). A ANOVA mista, ANOVA one-way e ANOVA de medidas repetidas foi usada
para comparar as variáveis paramétricas e a ANOVA de Friedman e o teste U de Mann Whitney
foram usados para comparação das variáveis não paramétricas. Os resultados mostraram, somente
para o grupo exercício, redução do deslocamento do centro de pressão anteroposterior (pré
14,91±2,11cm; pós 13,58±2,37cm), redução do tempo de reação dos músculos TA (pré
94,00±11,22ms; pós 88,19±14,52ms), GM (pré 101,33±11,78ms; pós 94,19±14,21ms) e SO (pré
92,00±12,16ms; pós 84,66±14,48ms) e redução do tempo ao pico EMG dos músculos TA (pré
144,71±23,73ms; pós 127,71±20,21ms) e GM (pré 128,52±14,65ms; pós 111,71±13,55ms),
(p<0,05). Foi encontrado aumento da amplitude da atividade eletromiográfica nos músculos TA (pré
150,04±32,61µV; pós 166,85±30,06µV), GM (pré 74,57±18,83µV; pós 87,52±16,24µV) e SO (pré
66,90±20,25µV; pós 84,47±16,13µV) na fase inicial (0-200ms) e no músculo SO (pré
40,00±12,91µV; pós 49,90±19,99µV) na fase intermediária (201-400ms) após o teste de perturbação
(p<0,05). Houve redução do tempo de execução do TUG (pré 10,19±1,31s; pós 9,46±1,24s) no GE e
aumento da relação de ativação central (CAR) nos músculos dorsiflexores (pré 0,871±0,02; pós
0,891±0,02) e flexores plantares de tornozelo (pré 0,875±0,02; pós 0,896±0,02) após o treinamento
de equilíbrio (p<0,05). Após o período de destreinamento, apenas o músculo TA manteve seu ganho
no tempo de reação muscular (pós 88,19±14,52µV; pós6 89,23±13,94µV) e tempo ao pico EMG
(pré 127,71±20,21; pós 130,09±17,08) (p<0,05). O protocolo de treinamento de equilíbrio proposto
aumentou a capacidade muscular reativa, o nível de ativação muscular e o controle postural em
idosas ativas da comunidade. Porém, essa melhora não foi mantida após o período de
destreinamento para a maioria das variáveis.