A epidemia de Acquired Immunodeficiency Syndrom (AIDS) atingiu o marco de 37,9 milhões de pacientes no mundo em 2018. No Brasil, o Rio Grande do Sul (RS) caracteriza-se por apresentar a segunda maior taxa de detecção de Human Immunodeficiency Virus (HIV) entre os estados do país e Porto Alegre, sua capital, registra a maior taxa de mortalidade entre as capitais. O tratamento da infecção causada pelo HIV está baseado no uso contínuo de medicamentos antirretrovirais. Historicamente, as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para início de terapia antirretroviral (TARV) estavam orientadas conforme as manifestações clínicas e a contagem total de linfócitos T CD4+ dos pacientes. A partir do ano de 2015, a OMS passou a recomendar o início de tratamento para todas as pessoas diagnosticadas com o vírus HIV, independentemente dos resultados de exames imunológicos. Em face da recomendação proposta pela OMS, este estudo visa avaliar o impacto da nova conduta de tratamento do vírus HIV em dois serviços de atendimento especializado em doenças sexualmente transmissíveis/AIDS (SAE DST/AIDS) na região metropolitana de Porto Alegre. Trata-se de estudo retrospectivo e longitudinal. Através da revisão e coleta de dados presentes nos prontuários de 678 pacientes, e da obtenção de dados dos sistemas de vigilância Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (SISCEL) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) pretende-se estabelecer relações entre os dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais desses indivíduos. O objetivo é elucidar questionamentos a respeito do uso de TARV e supressão da carga viral, identificação e troca de esquemas antirretrovirais, melhora dos níveis de CD4, adesão ao tratamento e uso da terapia em situação de AIDS e não AIDS. A média de idade da população foi de 40 anos (± 13), com predomínio do sexo masculino (60%), principalmente no SAE de Novo Hamburgo, onde 61,5% da população é composta por homens (p=0,001). O número absoluto de pacientes encontrados em situação de AIDS (CD4<350) foi de 274 e não-AIDS (CD4>350) 331. Os indivíduos em situação de não-AIDS têm adesão mais irregular (50,3%) e apresentam taxas mais elevadas de abandono do tratamento (19,7%) (p=0,041). A maioria dos pacientes (n=459) iniciaram uso de TARV com esquemas contendo inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos (ITRNN). Dentre esses, 80,6% permaneceram com a mesma classe de medicamentos em observações sequenciais. Entretanto, a taxa de permanência foi maior entre os usuários de inibidores da integrase (96,3%). As taxas de adesão irregular e abandono foram mais elevadas entre os usuários de ITRNN e IP, 53% e 21,6%, respectivamente. Os usuários de inibidores da integrase mostraram adesão mais regular (79,8%) (p=0,000). Foram realizadas estimativas através de Modelos de Equações de Estimativa Generalizada. Na análise da redução da carga viral, observou-se queda mais expressiva entre os usuários de inibidores da integrase, aproximando-se de significância estatística (p=0,08). Além disso, observou-se, com elevada significância estatística (p=0,000), que entre os indivíduos com AIDS, os níveis de carga viral (CV) reduziram mais expressivamente ao longo do tempo com o uso da TARV. Por fim, foram analisadas medidas sequenciais de CD4 em situação de AIDS e não-AIDS. A recuperação do CD4 foi progressiva e linear entre o grupo não-AIDS quando comparado ao grupo AIDS, porém essa informação não obteve significância estatística.