A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crônica, autoimune e sistêmica que causa danos progressivos aos sistemas articular, ósseo e muscular, sendo a caquexia reumatóide (CR) uma das suas principais comorbidades, atualmente conhecida como um distúrbio metabólico ligado ao processo inflamtório da AR, onde ocorre a perda de massa magra, compensada ou não pela elevação da massa gorda. O presente estudo objetivou propor modificações ao método de determinação de CR em indivíduos com AR por meio de uma análise multidimensional fundamentada no modelo da CIF. Foram estudadas 36 mulheres com diagnóstico de AR (GAR) e 20 sem a doença (GC), seguindo as seguintes etapas: a) Verificação do impacto da artrite reumatóide sobre os aspectos sociodemográficos, clínicos, funcionais, de qualidade de vida e sobre o risco cardiovascular; b) Definição do método mais adequado para classificação da CR; c) Classificação das variáveis do estudo segundo os domínios da CIF; d) Associação das variáveis do estudo com a CR; e) Proposição de modificações ao método de determinação da CR. Etapa 1: Comparado ao GC, o GAR apresentou mais indivíduos aposentados por invalidez e em média quatro anos mais cedo, faz mais uso de tratamentos coadjuvantes, possui maior histórico de doenças reumáticas na família (principalmente AR), apresentou maior número de queixas, patologias e comorbidades associadas. Adicionalmente, possui pior capacidade funcional e qualidade de vida (principalmente nos domínios capacidade funcional, aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos sociais e aspectos emocionais), e menores valores de força isométrica máxima de membros inferiores (até 33%) e superiores (até 37%). Complementarmente, apresentou 32,6% mais indivíduos na menopausa, a qual inicia 4,1 anos mais cedo, e são 40% mais sedentários, tendo apresentado pior desempenho no teste de caminhada de 6 minutos. Apresentou 3,4% mais gordura visceral, maiores concentrações de glicose sérica, aumento de 9,5% na VOPcd e VOPcr, e maior risco cardiovascular pelo mSCORE, SCOE065 e mSCORE065. Etapa 2: Optou-se pelo método de avaliação de composição corporal de Weltman et. al (1989) por verificar que a balança de bioimpedância superestima (em até 66%) a classificação de CR e de obesidade caquética. Não foi observado efeito do uso de diferentes medicamentos nestes parâmetros, mas sim, no risco cardiovascular: Verificou-se até 26% mais casos para o uso csDEMARDS e até 3,7% mais casos para os que usam Metotrexato, em relação aos que não usam. Etapa 3:No Comprehensive Core Set foram contempladas 38 categorias (39,5%) e 13 categorias (65,0%) do Brief Core Set, e incluíram-se outras variáveis que pudessem ser testadas quanto à associação com CR. Etapa 4: Das 227 variáveis testadas, 43 apresentaram associação. O domínio “Funções do corpo” representou 67,4% das associações principalmente em variáveis relacionadas aos aspectos de energia, emocionais, mentais, autopercepção de saúde, potência muscular, sistema cardiovascular, sistema imunológico e endócrino. O domínio “Atividades e participação” participou com 20,9% das correlações, principalmente relacionadas a aspectos de mobilidade, uso de membros superiores e inferiores para levantar e alcançar objetos ou alimentação, e realização de atividades no âmbito doméstico. Já o domínio “Fatores ambientais” apresentou menor número de associações (7,0%) em variáveis relacionadas aos medicamentos em uso e à família imediata (estado civil). Os domínios “Fatores pessoais” e “Estruturas do Corpo” apresentaram somente uma variável com associação à CR, cada uma. Etapa 5: O presente estudo detectou quatro variáveis com correlações fracas (relacionadas aos aspectos de capacidade funcional global, e força muscular) e 39 com correlação moderada, salientando-se que somente seis (FFMI - Índice de massa livre de gordura, FMI – Índice de massa gorda, IMC, massa corporal e massa gorda em kg) eram empregadas no método de determinação de CR (Engvall et. al (2008) ou Elkan et. al - B (2009)). Destaca-se ainda que as variáveis que apresentaram associação consideram aspectos relativos a condições pessoais, tais como tempo de profissão, e estado civil, e uso de medicamentos; à condição cardiovascular e nível de atividade física; força muscular; auto-percepção de saúde física, mental e emocional, energia e vigor; bem como aspectos relacionados aos efeitos da AR sobre a saúde e capacidade funcional (queixas, mobilidade, pegar, alcançar, mudar de posição) e sobre a execução de atividades de vida diária, as quais não são consideradas nos métodos de determinação de CR empregados na atualidade. Desta forma, este estudo propõe uma modificação no método de determinação de CR, no qual sejam incluídas as variáveis que apresentaram associação significativa, aumentando assim o poder preditivo desta comorbidade.