Objetivo: Descrever uma coorte nacional de pacientes adultos (≥ 18 anos) com AP
e comparar com a literatura disponível. Método: Trata-se de um estudo
observacional retrospectivo. Foram avaliados todos os pacientes com 18 anos ou
mais, com diagnóstico de astrocitoma pilocítico registrados no banco de dados do
Serviço de Neuro-Oncologia da Universidade Federal de São Paulo de 1991 até
2018. Foram analisadas informações referentes à apresentação clínica, localização,
características radiológicas, grau de ressecção, modalidades de tratamento e
evolução. Resultados: Vinte e três pacientes com AP foram analisados: 60,9%
homens; mediana de idade no diagnóstico de 26 anos (variação de 18 a 51). A
mediana de tempo entre o primeiro sintoma e o diagnóstico foi de 7,9 meses
(variação de 1 a 246) e o primeiro sintoma mais frequente foi cefaleia (34,8%),
seguida por crise convulsiva (26,1%). As regiões temporal e parietal foram as
localizações mais comuns, representando 21,7% cada, e a presença de realce por
gadolínio ocorreu em 90,9% dos pacientes. Todos os pacientes foram submetidos a
procedimento cirúrgico: ressecção radical em 40,9%, ressecção parcial em 22,7% e
biópsia em 27,3%. Três pacientes não possuíam registro confiável acerca do grau
da primeira ressecção, incluindo o único paciente que morreu. Tratamento adjuvante
com radioterapia foi realizado em apenas um paciente, após ressecção radical, e
quimioterapia em outro paciente, após biópsia. Apenas quatro pacientes
apresentaram progressão da doença, dois após ressecção radical e dois após
ressecção parcial. Três destes pacientes perderam segmento, mas permaneciam
vivos e sem evidência de nova progressão na última avaliação documentada, após
9, 6 e 2 anos de acompanhamento. Já o quarto paciente, permanece vivo com
doença estável até a data de fechamento do estudo (31 de Outubro de 2018). A
mediana de sobrevida global não foi atingida após uma mediana de
acompanhamento de 88,9 meses (variação de 1,9 a 330,4). Conclusão: Com base
na literatura disponível, esta é a primeira série brasileira de astrocitoma pilocítico em
adultos com longo tempo de seguimento. A evolução e o prognóstico foram
favoráveis, tal qual reportado nas revisões recentes da literatura. A localização
supratentorial foi predominante, especialmente no lobo temporal. Embora os demais
estudos destaquem o grau de ressecção como o principal fator prognóstico para
estes pacientes, não pudemos detectar relação estatisticamente significativa entre a
localização da lesão ou grau de ressecção e a ocorrência de progressão,
possivelmente pelo número reduzido de pacientes. Novos estudos, com populações
maiores, e estudos moleculares são necessários para elucidar as características
clinicas e patológicas, evolução e melhor abordagem terapêutica para o AP em
adultos.