A transmissão do vírus HIV da gestante ao seu filho é denominada transmissão vertical do HIV (TVHIV) e pode ocorrer em 15 a 40% dos casos se nenhuma ação de prevenção for realizada. Por essa razão, uma das ações de maior impacto na pandemia da AIDS é a prevenção da transmissão vertical do HIV. A realização de todas as intervenções profiláticas pode reduzir a menos de 2% esta transmissão. Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2018, do Ministério da Saúde, a taxa de detecção do HIV em gestantes em Porto Alegre foi 7,6 vezes a taxa nacional e 2,2 vezes a do Estado do RS, com 21 gestantes HIV/1000 nascidos vivos. E, dados da vigilância epidemiológica do município mostram que a taxa da TVHIV oscilava entre 5 a
6% no periodo de 2002 a 2010, com uma média de 20 crianças/ano infectadas no período, e decresce de 4% a 2,6% no ano de 2015, com 10 crianças infectadas neste último ano. O que contribui para ocorrer à transmissão vertical do HIV? Qual é a importância dos determinantes sociais em saúde à transmissão vertical do HIV? O quanto os determinantes individuais e contextuais se relacionam para a ocorrência da transmissão vertical? Esta tese objetivou conhecer a distribuição geográfica da taxa da transmissão vertical do HIV, nos diferentes recortes territoriais de Porto Alegre, e verificar a relação dessas taxas com índices de vulnerabilidade social e seus componentes, mensurando o quanto desta taxa pode ser atribuída à gestante e sua assistência, no nível individual, e ao território no qual ela está inserida, no nível contextual. Uma primeira análise foi um estudo ecológico transversal retrospectivo, com dados secundários do sistema de informação da vigilância epidemiológica da gestante com diagnóstico de HIV e criança exposta de residentes em Porto Alegre, com parto nos anos de 2010 a 2015. Nas análises descritivas dos indicadores se identificou áreas com maior concentração de casos. Contudo não houve significância estatística entre a taxa da transmissão vertical do HIV dos territórios e os indicadores socioeconomicos do OP, nem entre a taxa e os indicadores sociodemograficos elencados das áreas de atuação das unidades de saúde do GeoSaúde.O resultado pode ser decorrente das áreas e indicadores selecionados, do período analisado, do total de infecção por TV ou de uma assistência à saúde na prevenção da TV do HIV que esteja minimizando os fatores sociais. Pelo resultado do primeiro estudo, não se realizou a análise multinível que estava no projeto, e fez-se um estudo caso-controle com o objetivo de identificar fatores sociodemográficos, comportamentais e assistênciais maternos, que se relacionam com a transmissão vertical do HIV em Porto Alegre. Foi realizado com dados secundários da vigilância epidemiológica de gestantes e crianças expostas ao HIV pela gestação e parto, nascidas nos anos de 2010 a 2015. Para cada caso de transmissão vertical do HIV (TVHIV) foram randomizados quatro controles, sem TVHIV, pareados por ano de
parto e idade da mãe. O software STATA foi utilizado na análise estatística, com teste qui-quadrado e na regressão logistica multivariável com modelagem “backward” e com modelagem teorica hierarquica. O intervalo de confiança de 95% foi estipulado na identificação das variáveis com Odds Ratio (OR) significantes. Os resultados mostraram que a transmissão vertical do HIV tem maior chance de ocorrer em gestantes que não realizam o pré-natal, não utilizam a medicação antirretroviral e tem maior número de gestações estando vivendo com HIV. Essa constatação reforça a importância do sistema de saúde na prevenção da TVHIV e a qualidade da assistência prestada, em especial, a uma população vulnerável como indica uma menor escolaridade aumentando a chance da TVHIV.