O desenvolvimento da linguagem, de acordo com a vertente sócio-histórico-cultural, possui um papel primordial para o desenvolvimento cognitivo, social, cultural e emocional de qualquer criança. As primeiras interações sociais são, geralmente, construídas no seio familiar. Pensando no contexto de crianças surdas de família ouvinte, a falta de uma língua em comum poderá acarretar grandes danos no desenvolvimento desses aspectos. Refletindo sobre isso, o presente trabalho buscou compreender como (1) a inserção nessa língua transforma o processo de interação e comunicação de uma família, (2) a Libras auxilia na criação de laços afetivos e (3) (res)significa, nessa família, a concepção que tinha sobre a surdez. Para isso, seguiu a perspectiva sócio-histórico-cultural vygotskyana (VYGOTSKY, [1934] 1991, [1927, 1930, 1931] 1997, [1934] 2001) sobre o papel da linguagem e das relações sociais no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, a visão do Círculo bakhtiniano (Cf. BAKHTIN [VOLOCHÍNOV], [1929] 1988; BAKHTIN, [1979] 1997) que expõe que a língua é constituída em sua sócio-historicidade e as concepções de pesquisadores da área da surdez sobre a importância da Libras em contextos como o pesquisado. Metodologicamente, esta pesquisa filiou-se à Pesquisa Crítica de Colaboração (Cf. MAGALHÃES, [1994] 2007a, [1998] 2007b; FIDALGO, 2006a, 2006b, 2007, 2018), pois buscou a transformação dos agentes envolvidos por meio de uma discussão dialética em que foram (re)construídos os seus sentidos, mediante negociação dos significados coletivamente constituídos ao longo da pesquisa. Os dados foram produzidos através de observação, gravação de aulas de um curso de Libras frequentado pelos pais ouvintes, além de questionários, entrevistas e sessões reflexivas (Cf. MAGALHÃES, [1994] 2007a, [1998] 2007b, 2011; LIBERALI, 2008; NININ, 2013). Os resultados indicam que: (i) o processo de ensino-aprendizagem da Libras propiciou melhorias nas interações no contexto familiar e aproximação afetiva entre pais ouvintes e filho surdo; (ii) os sentidos que os pais participantes tinham sobre a Libras e a surdez antes do ensino-aprendizado da Libras foram ressignificados; (iii) as ações colaborativas repercutiram na reflexão da pesquisadora-participante sobre sua ação como pesquisadora e, com isso, na reorganização de sua prática como pesquisadora que segue a PCCol.