O estrógeno 17��-Etinilestradiol (EE2) configura um importante poluente em ambientes aquáticos por promover a disrupção endócrina em diversos organismos e também no homem. Eliminado via fezes ou urina por mulheres que fazem uso de contraceptivos orais, o composto tem sido comumente reportado em rios, águas superficiais, lagoas, estuários e baías em áreas urbanas, alcançando inclusive ambientes costeiros protegidos, como observado neste estudo por meio de análises imuno-enzimáticas (ELISA). Dados sobre a presença de EE2 em ambientes costeiros e marinhos ainda são escassos na literatura e foram aqui abordados. Em amostras de água marinha (praias de Canasvieiras e Ingleses) EE2 foi ausente ou abaixo do limite de detecção (LOD), no entanto, na foz do Rio Capivari (praia dos Ingleses) foram encontradas concentrações maiores às concentrações de não efeito (PNECs) propostas para peixes e outros organismos aquáticos. EE2 também foi detectado nas fozes do rio Sangradouro e no Riozinho do Campeche no verão e no outono, e nas duas lagoas costeiras amostradas, a Lagoa da Conceição, situada parcialmente em área fortemente urbanizada, e a Lagoa do Peri, protegida por Lei municipal e que abastece parte da população do sul e leste da ilha de Florianópolis. Neste estudo, somente a fração conjugada do EE2 foi considerada. Reportada como a menor fração em efluentes domésticos, esta forma do EE2 pode rapidamente voltar à sua forma livre e biologicamente ativa mediante a ação de microrganismos presentes no efluente e em ambientes naturais, de forma que a concentração total do hormônio identificado deve ser consideravelmente maior que o reportado neste documento. Em revisão, o trabalho apresenta o estado da arte do conhecimento à presença do EE2 em águas brasileiras. A macroalga Ulva lactuca foi utilizada como candidata à indicadora ambiental da presença do estrógeno no ambiente marinho. Mediante os resultados encontrados via RMN e ELISA, inexistem indícios de bioacumulação do hormônio no tecido da alga, no entanto, foram detectadas alterações na concentração de carotenoides e clorofila em amostras algais expostas a altas concentrações do estrógeno (0,001 a 1 mg/L) por 48h. Este é o primeiro trabalho que aponta alterações de qualquer natureza em macroalagas expostas ao EE2, contudo, mais informações sobre a ação do estrógeno sobre o metaboloma da alga são requeridas para indicá- la como bom bioindicador, ainda mais, comparada a outros organismos da fauna aquática que respondem a concentrações muito menores às testadas neste estudo. Análises bioinformáticas de dados espectrais 1H-RMN das amostras indicam pouca ou nenhuma alteração significativa do endometaboloma da alga mediante a exposição ao estrógeno, porém, para o exometaboloma, o modelo analítico utilizado identificou 23 ressonâncias responsáveis pelo agrupamento das amostras expostas.O trabalho ainda apresenta contribuição promissora à análise bioinformática para identificação de compostos em matrizes brutas analisadas via RMN, por meio da compilação de um banco de metabólitos voltado para a espécie de interesse. A base de dados poderá ser dinamicamente alimentada com novos compostos e outros modelos biológicos, otimizando a identificação automatizada de metabólitos de organismos alvo a partir de dados espectrais 1H-RMN como observado neste documento para U. lactuca.