Tabanídeos são insetos onde somente a fêmea é hematófaga, e além do incômodo provocado por sua picada, em animais de produção, companhia e humanos, podem também transmitir agentes causadores de enfermidades. Devido ao hábito alimentar, esses animais possuem em sua saliva componentes com poder anti-hemostático, vasodilatador, inibidor de imunoglobulinas, entre outros. Além disso, são também vetores mecânicos de uma série de agentes patogênicos importantes, como os tripanossomatídeos. Tendo em vista estas características, foi realizado um estudo de bioprospecção de componentes da glândula salivar de tabanídeos da floresta ombrófila mista (Sul do Brasil) e pesquisa da presença de Trypanosoma evansi e Trypanosoma vivax no aparelho bucal destes insetos, além do levantamento populacional e estudo de preferência anatômica para repasto. Foram capturados, semanalmente, entre as 15h e 18h, em quatro sítios na região de Lages, tabanídeos (Diptera, Tabanidae) no período de fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019. As capturas com iscas usando um equino de coloração escura ocorreram durante três horas. Quatro observadores munidos de copos de vidro coletaram as moscas que pousaram no cavalo, este permanecia em estação para os procedimentos de coleta, e a cada 30 minutos era colocado em marcha, durante 5 minutos. Os exemplares capturados foram armazenados conforme localização do repasto, no dispositivo SECTAB e foram escolhidas as espécies mais abundantes e de maior tamanho, para facilitar a dissecação e fornecer material em quantidade suficiente para análise. Os insetos coletados foram mortos em frascos mortíferos contendo clorofórmio. Após, foi procedida a identificação taxonômica, sendo as glândulas salivares e os aparelhos bucais extraídos logo após a coleta. As glândulas salivares foram dissecadas sob um estereomicroscópio e transferidas para microtubo contendo tampão fosfato - salina (PBS pH 7.2), foram armazenados em TNE. O DNA do aparelho bucal e proteínas das glândulas salivares foram extraídos e analisados especificamente para a prospecção dos tripanossomatídeos e para a análise proteômica. O número de espécies de tabanídeos variou de zero no outono/inverno a sete no verão (dezembro a fevereiro). Dichelacera (D.) alcicornis Wied. (276) foi a espécie mais abundante seguida de Chrysops fusciapex Lutz (94) e C. patricia Pechuman (56). As capturas de pico ocorreram durante o verão (dezembro a fevereiro). O comportamento de pouso para repasto sanguíneo variou de acordo com os gêneros e espécies: Chrysops sp. (98,93%) preferiram a cabeça, Fidena nigipes (100%) tórax e abdomen, já Dichelacera sp. (73,91%), Poeciloderas sp. (95,65%) e Acanthocera kroeberi (100%) preferiram os membros. No material do aparelho bucal do gênero Dichelacera spp. e da espécie Dichelacera (D.) alcicornis foi encontrado DNA de T. evansi. Nas glândulas salivares das espécies D. (D.) alcicornis, D. (D.) januarii e Fidena nigripes foram identificadas 70 proteínas com funções nos processos metabólicos dos ácidos carboxílicos, proteínas, carboidratos, bem como funções estruturais, oxirredutoras, de transporte.