É costumeiro que se tenha curiosidade pelos povos das florestas, indígenas,
quilombolas, entre outros. Os denominados povos Cerradeiros, seus
conhecimentos e riquezas culturais são componentes da imensa
etnodiversidade dos povos brasileiros. Assim, investigar os saberes e fazeres
das Mulheres Cerradeiras, descrever, compreender e representar suas vivências
e sentidos, suas angústias e anseios são objetivos desta pesquisa. A área
selecionada para a realização desta pesquisa foi a Microrregião Geográfica
Sudoeste de Goiás, que consiste numa das primeiras porções do Cerrado
brasileiro a se “modernizar”, ainda que parcialmente, a partir da chegada e
expansão da agricultura capitalista nos anos 1970. Ao delimitar essa região,
investigamos além das Práticas Cerradeiras, como esses saberes e fazeres
resistem à expansão geográfica do capital, uma vez que é uma localidade de
intensa atividade agropecuária e tecnificação no campo, predomínio de
latifúndios e da monocultura. Utilizamos de técnicas de pesquisa/coleta de dados
como entrevistas, fotografias, mapas mentais e narrativas de vida, a fim de
extrair e descrever nossas percepções da forma mais minuciosa e detalhada
possível sobre suas vivências. Mulheres residentes nos espaços rural e urbano
participaram desta pesquisa, incluindo proprietárias de terras, quilombolas,
trabalhadoras no campo, moradoras de aluguel ou em casa própria. Embora
morando em localidades diferentes, buscamos por mulheres que tiveram suas
raízes no meio rural, nasceram e passaram grande parte de suas vidas morando
em contato com elementos do Cerrado, suas tradições, as “farturas” e as
necessidades que ele pôde proporcionar. As 20 Mulheres analisadas aqui se
destacaram por alguma ou variadas ocupações ligadas a elementos do Cerrado.
Não tivemos aqui o objetivo de demonstrar destaques em grande escala, mas
sim elucidar saberes de uma vida inteira, identidades constituídas através de
suas interações com o Cerrado, seus elementos e as crenças criadas em torno
dele. Os saberes e fazeres que encontramos entranhados nas rotinas dessas
mulheres e de importância imperceptível para a maioria delas, denominamos
Práticas Cerradeiras, por conterem elementos específicos do Cerrado, terem
sido apreendidos junto ao domínio e resistirem aos dias atuais em suas
atividades diárias. As Mulheres Cerradeiras ficam então descritas neste trabalho
com a tentativa de imortaliza-las e também suas Práticas Cerradeiras que vem
bravamente resistindo ao avanço da expansão geográfica do capital.