Esta dissertação trata de uma leitura de caráter interdisciplinar em Estudos de Linguagem e Cultura, enfocando a “velhice” e o “corpo”, em Viagem a Petrópolis, de Clarice Lispector. Para a análise foram utilizadas categorias teórico-críticas de Bakhtin/Volochínov (1997; 2011), balizadas pela abordagem linguístico-enunciativa no que se refere ao funcionamento do discurso e do enunciado, voltados para o texto literário; Beauvoir (1970; 1980), com exame do ponto de vista filosófico acerca da “velhice”; e Sennett (2003), com estudos referentes ao “corpo” no âmbito de uma historiografia da cidade enquanto objeto histórico-discursivo. Na perspectiva de ampliação do escopo interpretativo, foram inseridas ainda reflexões a partir dos estudos críticos de Secco (1994), Ricoeur (2010), Rancière (2005), Said (2005), entre outros. O método utilizado é da pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa. A problemática central está assentada em procurar compreender o quanto a construção de enunciados em Viagem a Petrópolis carrega as marcas da subjetividade da escritora em sua relação com os valores, ideias e compromissos de seu tempo, presentes na narrativa literária. O objetivo geral foca na análise do funcionamento enunciativo tecido no conto, levando em consideração a trajetória da vida da escritora e sua obra, e, como objetivo específico, a análise da “velhice” e do “corpo” para compreender as articulações que a autora constrói no conto por meio desses enunciados. O estudo está organizado da seguinte maneira: a primeira seção, intitulada “Bakhtin, o círculo e filosofia da linguagem: o registro do caminhar teórico-metodológico e limitações”, apresenta breves noções de alguns temas em Bakhtin/Volóchinov: enunciação e enunciado no contexto da filosofia marxista da criação verbal, e a “velhice” segundo as contribuições de Simone de Beauvoir, atentando para a contextualização e contribuições dessas obras para a formulação deste estudo. A segunda seção, “Clarice Lispector: uma experiência de sentidos em trânsito”, apresenta a escritora, com justificativas e motivações acerca da escolha em tecer demoradas considerações sobre sua trajetoria, inserindo ainda a descrição empírica do conto, que somam as compreensões de enunciado “velhice” e “corpo” para compreender a articulação que a escritora tece no texto. E, por fim, a terceira seção, “A ‘velhice’ e o ‘corpo’ em Viagem a Petrópolis”, apresenta uma discussão teórico-reflexiva a respeito do conto analisado, seguida das conclusões ou considerações finais.