Considerando a formação e expansão da indústria cultural no Brasil a partir dos anos 1940,
processo concomitante ao surgimento e estruturação do baião como gênero musical
representante do Nordeste, assentado na acuidade inventiva de Luiz Gonzaga e parceiros,
buscou-se nessa pesquisa apurar os elementos presentes nas reflexões dos intelectuais
fundadores da Escola de Frankfurt, sobretudo os escritos de Theodor Adorno, assim como de
autores tributários de sua obra, voltados a investigar os impactos oriundos da penetração da
lógica industrial sobre os bens culturais no Brasil no século XX, especialmente pelo setor
fonográfico (rádio, gravadoras, produção de discos, etc.). Tendo como pano de fundo a
produção simbólica do Trio Mossoró, conjunto musical de baião surgido na década de 1950
na cidade de Mossoró/RN e estabelecido no Rio de Janeiro desde 1960, inserido ao longo de
sua trajetória discográfica em gêneros distintos da música que o consagrou, analisou-se
criticamente a produção discográfica completa do trio (composta de 12 álbuns, gravados entre
1962 e 1977), notadamente destacando as mudanças técnicas (inclusão de instrumentos
musicais não-tradicionais do baião, fusão com outros estilos musicais, indumentária dos
componentes do trio, capas dos discos, etc.) e temáticas (conteúdo lírico das canções)
desenvolvidas neste recorte musical, com moldes nos trabalhos de Costa (2012) e Faraco
(2012). Levando em conta os processos históricos e culturais que propiciaram a construção e
inserção da música nordestina nos centros metropolitanos nacionais, desde a embolada de
coco nos anos 1920, passando pelo baião urbano-comercial gonzagueano nos anos 1940 e
indo até a música do Trio Mossoró nos anos 1960 e 1970, pretendeu-se provocar uma
abordagem no aspecto da canção urbana brasileira que direcionasse o olhar para a perspectiva
dos atores diretamente envolvidos na trama, através de entrevistas com os membros do Trio.
Dessa forma, identificando os meios e mediações nos quais transitou o grupo mossoroense
para ocupar seu lugar na história da música regionalista nordestina, esses artistas atuaram
tanto como condicionado quanto condicionante de sua rica trajetória, entrecortando e
desafiando certas estruturas, enquanto elemento ativo na construção de sua biografia artística.