Introdução: Estimativas sobre a prevalência de morbidades maternas não graves ainda não são claras, não há metodologias padronizadas, especialmente sobre violência doméstica e sexual, funcionalidade e estado de saúde mental. Devido à falta de ferramentas para avaliar com precisão essas condições associadas com a gravidez de forma abrangente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) liderou o desenvolvimento de um instrumento multidimensional chamado WOICE. Objetivo: Avaliar a prevalência de morbidade materna não grave (incluindo alterações da saúde geral, violência doméstica e sexual, funcionalidade e saúde mental) e avaliar os fatores associados às alterações da funcionalidade, ansiedade, depressão e alterações da saúde geral mediante a aplicação do instrumento WOICE 2.0 em mulheres no terceiro trimestre da gestação durante o pré-natal. Método: Estudo transversal com entrevista e aplicação de questionário em mulheres durante o terceiro trimestre de gestação (a partir das 28 semanas), em um centro de referência no Brasil. O instrumento incluiu três seções: a primeira aborda história materna, informações sociodemográficas, potenciais fatores de risco e meio ambiente, antecedentes obstétricos, violência, saúde sexual. A segunda é sobre funcionalidade e incapacidade, sintomas gerais e saúde mental e a terceira inclui sinais e informações sobre exames físico e laboratoriais. A coleta de dados, transmissão, verificação, armazenamento e análise foram realizadas com tablets que tinham o software REDCAP. Foi realizada uma análise descritiva dos dados coletados, assim como as prevalências gerais de scores dos instrumentos validados considerados para funcionalidade e saúde mental incluídos no instrumento WHO-WOICE. As variáveis contínuas foram apresentadas em média (M) e desvio padrão (DP) e as variáveis categóricas foram divididas em grupos e apresentadas em percentual (%) de frequência. Também foi realizada uma análise de regressão logística múltipla para investigar fatores associados a condições alteradas de saúde mental, funcionalidade e saúde clínica. Resultados: Foram incluídas 533 mulheres com idade média de 28,9 anos (± 6,7), a maioria com companheiro (77,1%) e nível de escolaridade secundário (67,7%). A frequência de exposição à violência foi de 6,8% e 12,7% relataram uso de qualquer tipo de substâncias (cigarro, bebidas alcoólicas, maconha, inalantes, sedativos ou pílulas para dormir, alucinógenos, opioides e/ou drogas por injeção para uso não médico). A satisfação sexual foi muito prevalente (91,7%) porém quase um quinto relatou abstinência sexual. No geral, as mulheres relataram saúde boa e muito boa (72%), apesar de 66% terem sido informadas de que tinham uma condição médica. Houve um total de 29,9%,1% de ansiedade, 39,5% de depressão e 20,4% com alteração da funcionalidade. A percepção de condição clínica anormal foi o único fator independentemente associado à alteração da funcionalidade e saúde mental no modelo de regressão múltipla. A obesidade foi associada independentemente a condições clínicas. Conclusão: Durante o cuidado pré-natal, as mulheres apresentaram altas frequências de ansiedade, depressão, alteração da funcionalidade e uso de substâncias. Estes podem afetar a saúde das mulheres e devem ser mais considerados para intervenções específicas e atendimento de qualidade.