O conceito de geossistema é constantemente mencionado no debate geográfico relacionado aos
estudos paisagísticos e ambientais, fato que remonta ao seu protagonismo teórico-metodológico
na constituição da interface entre geografia e abordagem sistêmica. Mesmo diante da
importância do conceito para a ciência geográfica, não tem havido atenção especial ao
entendimento dos diferentes legados científicos estrangeiros que suportam a pesquisa nacional
sobre o tema. Também não há, em território nacional, um debate de fôlego que demonstre como
o geossistema tem sido operacionalizado nos estudos articuladores sociedade ↔ natureza.
Nesse âmbito, objetivou-se, de modo geral, analisar o uso do conceito de geossistema pela pósgraduação em geografia no Brasil entre 1971 e 2015, considerando as suas trajetórias e
tendências junto aos estudos dedicados à relação sociedade ↔ natureza. Para o alcance de tal
objetivo, discutiram-se as perspectivas históricas e os legados internacionais sobre o tema; a
produção geográfica nacional sobre geossistema e suas relações com a paisagem e o ambiente;
a importância da correlação entre conceitos particulares e complementares ao debate do
ordenamento – paisagístico e ambiental – dos territórios; e, por fim, realizou-se um debate
visando à ressignificação conceitual e à prática analítica sobre o tema. Para isso, a partir de uma
metodologia articuladora pautada no pensamento da complexidade e em análise histórica,
documental e comparativa, realizou-se a recuperação do legado teórico-metodológico nacional
e internacional na temática, bem como a análise de artigos, dissertações e teses nacionais
coletadas. Os caminhos trilhados por esta pesquisa demonstraram que, apesar dos diversos
avanços teórico-metodológicos, há uma dissonância entre a trajetória/rigor epistemológico dos
legados internacionais e muitas das aplicações do geossistema realizadas no Brasil.
Constataram, ainda, uma utilização do conceito de modo majoritariamente prático, pouco
considerando o potencial teórico-metodológico do geossistema para o enfrentamento dos
desafios geográficos atuais. Essas tendências de emprego dificultam o aproveitamento dos
legados nacionais e estrangeiros para a construção de discussões e reflexões epistemológicas
na geografia física brasileira, prejudicando, assim, o amadurecimento conceitual de grande
parte dos estudos desenvolvidos sobre o tema. Para contornar algumas das limitações
identificadas, preconiza-se, como uma via alternativa, a proposição do geossistema complexo,
em uma tentativa de estabelecer elos encadeados entre diferentes vertentes de concepção e
aplicação do conceito através de redes colaborativas.