A saúde bucal dos indivíduos não é influenciada apenas por determinantes biológicos. O papel
de outros fatores, como fatores ambientais, psicossocias e comportamentais no
desenvolvimento de doenças e condições bucais vem sendo investigado. Este estudo tem como
objetivo avaliar longitudinalmente a relação entre condição socioeconômica, apoio social,
fatores psicossociais, frequência de escovação dentária, tabagismo e condição periodontal
(gengivite e cálculo dentário) em adolescentes. Uma amostra de 359 adolescentes de escolas
públicas situadas em uma zona urbana caracterizada por baixos indicadores sociais, em Manaus,
Amazonas, foi avaliada em 12 meses utilizando um modelo teórico conceitual através de
modelagem de equação estrutural com 2 variáveis latentes e 16 variáveis observadas. Foram
avaliados a condição socioeconômica e o senso de coerência, utilizando-se o instrumento sense
of coherence (SOC-13) e crenças em saúde bucal dos adolescentes e de seus pais na linha de
base; o apoio social, por meio do questionário social support appraisals, a frequência de
escovação dentária e tabagismo dos adolescentes aos seis meses; e a condição periodontal dos
estudantes, após 12 meses. Para avaliar a condição periodontal, foram examinados
aleatoriamente um quadrante superior e o quadrante inferior diagonal da arcada dentária de cada
aluno. Foi registrada a presença de sangramento gengival do elemento dentário quando pelo
menos um dos seis sítios examinados em cada dente apresentou sangramento. Para o cálculo
dentário, foi registrada sua presença ou ausência por dente. A análise descritiva dos dados
revelou que o sexo feminino representou 56,5% da amostra, 40,1% apresentou renda familiar
mensal entre R$ 441,00 e R$880,00 e que 73% dos responsáveis tinham de 8 a 11 anos de
estudo. A prevalência de sangramento gengival e cálculo dentário foi de 94,5% e 71,6%
respectivamente. A maioria dos estudantes (91,9%) relatou que escovava os dentes três ou mais
vezes ao dia e 5,3% deles já haviam fumado ou fumavam. A análise fatorial confirmatória do
modelo de mensuração e a modelagem de equações estruturais confirmaram a adequação do
modelo teórico proposto. Uma pior condição socioeconômica foi preditora direta de maior
frequência de tabagismo. O tabagismo e a maior frequência de cálculo dentário foram preditores
diretos para maior ocorrência de sangramento gengival. Crenças mais desfavoráveis em saúde
bucal e senso de coerência fraco dos adolescentes foram indiretamente associados à maior
frequência de sangramento gengival, via apoio social e tabagismo. Da mesma forma, crenças
mais desfavoráveis e senso de coerência fraco dos responsáveis foi preditor indireto para maior
sangramento, via tabagismo apenas. O cálculo dentário foi outra via possível no efeito indireto
do senso de coerência dos responsáveis no sangramento gengival. Menor apoio social foi
preditor indireto para maior frequência de sangramento gengival, via tabagismo. Os achados
demonstraram que houve associação direta e inversa entre condição socioeconômica e o
comportamento de fumar, mas não foi demonstrada a influência desse fator nos desfechos
clínicos avaliados. Evidenciou-se o papel protetor do apoio social e fatores psicossociais – senso
de coerência e crenças em saúde bucal – na saúde periodontal de adolescentes que vivem em
condições de privação social.