A pegada hídrica é um conceito atual que indica o consumo direto e indireto de água em
um processo, produto ou área delimitada. Atualmente, o setor agrícola é o maior
responsável pelo uso mundial de água, sendo necessário, portanto, estudos que
apresentem a pegada hídrica (PH) dessa atividade.O objetivo do presente trabalho foi
avaliar a PH como indicador de sustentabilidade ambiental, da agroindústria canavieira
no município de Camutanga, Pernambuco, inserida na sub-bacia hidrográfica do rio
Capibaribe Mirim. A avaliação da PH foi realizada de acordo com a metodologia do
manual de avaliação da PH e ISO 14046:2014, seguindo as etapas de definição de
objetivos e escopo, cálculo da PH, avaliação da sustentabilidade e medidas para redução
da PH. A análise da PH foi realizada a partir dos dados do cultivo de cana-de-açúcar e
da fabricação dos subprodutos, etanol e açúcar, referente a primeira safra (2016/2017) e
segunda safra (2017/2018), da Usina Olho D'Água. Para tanto, contabilizou-se a PH
verde, azul e cinza da agroindústria canavieira. Para o mapeamento do uso e ocupação
do solo da área, utilizado na análise da sustentabilidade da PH verde, aplicou-se o índice
de vegetação por diferença normalizada (IVDN). Para o estudo da sustentabilidade
ambiental da PH, para as referidas safras e uma série histórica de 2000 a 2017,
considerou-se os períodos seco, chuvoso, mensal e safra completa. Os indicadores
utilizados para a avaliação da sustentabilidade ambiental da PH foram a escassez de
água verde (EAverde), escassez de água azul (EAazul) e nível de poluição da água (NPA).
As medidas propostas para a redução da PH foram priorizadas para as pegadas que
apresentaram-se insustentáveis. Por fim, analisou-se todos os poluentes utilizados nas
duas safras, afim de identificar o menos prejudicial ao meio ambiente e ao ser humano,
através do NPA e das classificações quanto a toxicidade ao ser humano e periculosidade
ambiental.Os resultados apresentaram uma PH total para a cana-de-açúcar de 2364,87
m³/t e 1043,92 m³/t, sendo a maior contribuição dada pela componente cinza, com 86%
e 75%, para primeira e segunda safra respectivamente. Quanto a PH do processo de
fabricação dos produtos, o etanol obteve maior PH com aproximadamente 10m³/t,
enquanto o açúcar foi 4,7m³/t em média para as duas safras. Na área da sub-bacia
hidrográfica do rio Capibaribe Mirim, onde está inserida a usina, prevaleceu o uso de
áreas agrícolas, com 41,28%, enquanto o espelho de água com 0,52% da área total da
sub-bacia. Diante desses valores do uso e ocupação do solo, a EAverde apresentou-se
sustentável para todos os períodos estudados. Quanto EAazul, foram identificados pontos
insustentáveis apenas nos períodos seco e mensal nas duas safras. O NPA da
agroindústria canavieira apresentou-se insustentável na maioria dos períodos, com
valores, para a safra completa de 1221,93% e 798,28%, sendo representados pelos
agrotóxicos Diurom 800 e Imazapique, na ordem de primeira e segunda safra. Concluise
que o uso da PH para a análise da sustentabilidade ambiental da agroindústria
canavieira, proporcionou entender a relação dessa atividade com os recursos hídricos na
sub-bacia Capibaribe Mirim, auxiliando na gestão da água para a região. Este estudo foi
o primeiro a analisar a sustentabilidade ambiental da PH do cultivo de cana-de-açúcar,
utilizando-se como poluentes críticos os efeitos dos agrotóxicos.