Esta tese se dedica à investigação sobre o estatuto da imagem no pensamento de Albert Camus, já que, para o autor, à filosofia são possíveis formas outras de enunciação que não aquela realizada por um conjunto de conceitos interligados em um sistema, tal como se pode observar na tradição filosófica. Diante disso, os escritos principais da obra camusiana, divididos em dois ciclos, o do Absurdo e o da Revolta, apresentarão a questão da enunciação literária da reflexão filosófica, problematizando suas fronteiras ao compreender a imagem como uma ocasião para a reflexão, não se tratando de algo anterior, mas simultâneo a ela. A imagem, portanto, não adultera a reflexão genuína sobre a realidade, mas as envolve intimamente porque permite ao pensamento encarnar experiências inapreensíveis conceitualmente, possibilitando ao filósofo uma apreensão lúcida da existência que, a partir da experiência sensível, não irá definir ou conceituar, mas ilustrar a vida em sua absurdidade, configurando-se como a expressão de uma forma mais completa, isto é, mais fecunda, de pensamento. Não desenvolvendo uma filosofia ao modo sistemático, fechada numa rede de conceitos, tal como fizeram Descartes, Kant, Hegel, entre outros, o autor estaria apontando uma direção para a reflexão filosófica com vistas a uma filosofia mais inquietante, que por meio da criação de imagens colocasse problemas diretamente relacionados à vida humana concreta e sua tragicidade inescapável, uma filosofia na qual o filósofo, malgrado suas pretensões de unidade, enfrentasse lúcida e honestamente o divórcio, para Camus, irrevogável, entre o homem e o mundo.