O Complexo Suape é um aglomerado sócio produtivo, localizado no litoral sul, entre os municípios de
Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, estado de Pernambuco no
Nordeste Brasileiro. Foi concebido sob o conceito de integração porto/indústria nos anos 1970 e desde
então vem se constituindo como um espaço de disputas. Trata-se de uma experiência que vem
reproduzindo, mas também alterando, as características do mercado de trabalho local, cujas marcas
históricas são de condições precárias e com forte presença da informalidade. Mais recentemente, a
partir de 2005, viu seu espaço de relações serem redesenhados pela instalação de dois grandes
empreendimentos que compuseram a estratégia de retomada da indústria naval em nosso país. Com o
desenrolar da crise econômica e política que se abateu, em âmbito nacional e local, a partir de 2014, os
dois Estaleiros do Complexo Suape vem enfrentado uma etapa de crise e desemprego em massa com
amplos rebatimentos na questão social. Tendo em conta esse cenário mais preciso de obervação, esta
tese toma como objeto de estudo a questão da qualificação profissional analisada a partir da
reconstituição das trajetórias ocupacionais de trabalhadores da construção naval, que estão ou
estiveram inseridos no Estaleiro Atlântico Sul e Vard-Promar. Nossas questões de pesquisa
cincunscrevem-se em torno de algumas perguntas relacionadas entre si: como os trabalhadores, em
seus próprios termos, interpretam suas experiências de aprendizado para o trabalho (sejam as que se
dão pela via da prática de treinamento dentro dos espaços produtivos, sejam aquelas que se dão nos
espaços escolares (como cursos de qualificação)? Quais as pressões a que estiveram e estão mais
diretamente submetidos, tendo em conta sua movimentação ocupacional (emprego, desemprego,
trabalho informal, migrações)? Quais os seus espaços de ação, expectativas e estratégias de
sobrevivência? Nosso objetivo central foi compreender, por meio da reconstituição sociológica das
trajetórias ocupacionais, os modos de incorporação e reelaboração, por parte dos trabalhadores, de um
conjunto difuso de referências prático-discursivas que tomam por base as noções de
trabalho/qualificação/desenvolvimento, considerando que tais trajetórias são construídas no confronto
com os condicionamentos impostos pelos processos mais gerais desencadeados pelas disputas entre os
diversos agentes coletivos, que vêm reestruturando o Complexo Suape, especialmente em suas duas
fases: a de crescimento acelerado e a de crise/declínio. Do ponto de vista metodológico, buscamos
realçar as condições, contradições e desafios ali colocados, contemplando reciprocamente as
dimensões objetiva e subjetiva; as estruturas e os processos relacionados àquelas dinâmicas sociais.
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, que utilizou a combinação dos seguintes instrumentos
de produção e análise de “dados”: análise documental (envolvendo documentos técnicos,
institucionais, midiáticos, nacionais e locais referidos aos objeto de estudo), procedimento de
observação direta em campo, e realização de entrevistas em profundidade com trabalhadoras e
trabalhadores.