Introdução: Vários critérios de classificação de osteoartrite (OA) de joelhos estão
disponíveis na literatura, geralmente divididos em clínicos, clínico-radiográficos e
radiográficos. A existência de diferentes critérios de classificação de OA de joelhos
dificulta uniformizar e comparar resultados em estudos epidemiológicos, assim como
a investigação de fatores de risco e manifestações clínicas associados à OA de
joelhos. O conhecimento sobre a capacidade desses diferentes critérios em
discriminar indivíduos com e sem OA, assim como conhecer a força de associação
de fatores de risco, da presença de dor e de limitação funcional com os diferentes
critérios, é essencial para se compreender as vantagens e limitações do uso de cada
um deles. Objetivo: avaliar a validade de diferentes critérios de classificação de OA
de joelhos em uma amostra de servidores públicos acompanhados pelo Estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto, ELSA-Brasil Musculoesquelético (ELSA-Brasil
ME). Método: trata-se de um estudo transversal de validação de diferentes critérios
de classificação de OA de joelho, a saber: OA sintomática, OA radiográfica, OA pelo
American College of Rheumatology (ACR clínico e clínico-radiográfico) e OA pela
definição do National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Os
participantes do estudo foram provenientes da coorte ELSA-Brasil ME, um estudo
ancilar ao Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). O ELSA-Brasil ME
acompanha 2901 servidores públicos, ativos e aposentados, em um dos seis centros
de investigação do ELSA-Brasil, localizado no estado de Minas Gerais, Brasil. O
presente estudo foi realizado em uma subamostra de conveniência com 250
participantes do ELSA-Brasil ME, de ambos os sexos, com idade entre 39 e 78 anos.
A avaliação foi feita por uma reumatologista (RCCM) no período de fevereiro de
2014 a junho de 2015. Apenas um joelho por indivíduo foi incluído, aquele com OA
pela reumatologista. Quando ambos ou nenhum dos joelhos apresentava OA, foi
feita a seleção por sorteio aleatório simples. Avaliou-se o desempenho dos critérios
de classificação de OA descritos anteriormente, tendo como padrão-referência a
avaliação clínico-radiográfica da reumatologista. Foram apresentados dados de
prevalência, sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivo e negativo e
acurácia (IC 95%;α=5%). Posteriormente, a validade de construto convergente
desses critérios foi avaliada a partir da associação entre a presença de OA de
joelho identificada pelos critérios e as seguintes variáveis explicativas: índice de
massa corporal (IMC), dor e limitação funcional (subjetiva e objetiva). A presença da
dor em joelhos e a limitação funcional subjetiva foram avaliadas pelo Western
Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC) e a limitação
funcional objetiva pelo teste sentar e levantar repetido. Associações foram testadas
por modelos de regressão logística binária e multinomial (IC 95%;α=5%).
Resultados: a idade média foi de 56,1 anos (DP=8,7), 51,2% eram homens. A maior
prevalência de OA ocorreu na avaliação da reumatologista (39,2%), seguido de OA
pelo NICE (36,8%) e pelo critério OA radiográfica (22,0%). OA radiográfica
demonstrou sensibilidade e especificidade de 51,0% e 96,7%, respectivamente. A
definição pelo NICE apresentou sensibilidade de 57,0% e especificidade de 76,3%.
Os demais critérios mostraram boa especificidade, mas sensibilidade menor que
30,0%. Na avaliação de validade de construto convergente, IMC, dor e limitação
funcional subjetiva se associaram à OA de joelho identificada por todos os critérios,
sendo a magnitude da associação particularmente forte entre dor e OA segundo o
critério ACR clínico (OR 21,7; IC95% 7,12-66,12) e entre limitação funcional
subjetiva e OA segundo o NICE (OR 32,5; IC95% 13,4-79,0). Limitação funcional
objetiva apresentou associação com os critérios OA sintomática e ACR clínico e
clínico-radiográfico. Conclusões: o presente estudo demonstrou que dentre os
critérios avaliados a OA radiográfica demonstrou melhor desempenho quanto à
sensibilidade e especificidade, seguido pela definição de OA pelo NICE. Os critérios
OA sintomática e OA pelo ACR clínico e clínico-radiográfico não se mostraram
adequados para estudos que objetivam avaliar prevalência, devido à baixa
sensibilidade dos mesmos. Entretanto, podem ser uma alternativa em estudos
longitudinais nos quais é favorável o uso de critérios com boa especificidade. Quanto
à validade de construto convergente, de forma geral, os resultados encontrados
oferecem suporte para todos os critérios investigados, já que houve associação de
IMC, dor e limitação funcional subjetiva com todos os critérios e a limitação
funcional objetiva apenas não se associou à OA radiográfica e ao NICE. É
importante ressaltar que a escolha de qual critério utilizar em um estudo requer levar
em conta qual combinação melhor atende aos objetivos preconizados pelo estudo.