O gênero Passiflora abrange diversas espécies silvestres que apresentam potencial para
serem inseridas no mercado, sendo Passiflora setacea uma destas. Diante disso, o estudo
da biologia reprodutiva da mesma foi realizado em área de Cerrado na Fazenda Vale do
Tamanduá, no município de Aragoiânia no estado de Goiás. Objetivou-se analisar a
fenologia, a biologia floral, determinar o sistema reprodutivo, verificar os visitantes
florais e certificar se as flores que sofrem herbivoria tem menos chances de produzir
frutos maduros. Foi verificado que a cultivar floresce o ano todo, produzindo frutos com
maior intensidade em agosto. Suas flores possuem características que a enquadram na
síndrome de quiropterofilia, como flores brancas, alta produção de néctar e antese
noturna. O néctar encontra-se disponível apenas uma hora após a abertura da flor que
ocorre por volta das 18hs. A produção do néctar variou de 135 a 485 microlitros, com
concentração de 18 a 28%. Passiflora setacea é auto-incompatível, apesar da sua taxa de
autoincompatibilidade (0,26) estar no limite do valor para a auto-incompatibilidade
(0,25). Os frutos produzidos através da polinização cruzada apresentaram maior peso
total, rendimento da polpa, número de sementes, comprimento transversal e longitudinal
do que os frutos produzidos por autopolinização. Em relação aos visitantes florais
noturnos, Glossophaga soricina foi considerado o polinizador mais eficiente, devido a
presença de grãos de pólen na sua pelagem. Entre os visitantes florais diurnos encontramse abelhas, vespas, moscas e aves. Apis mellífera e Trigona spinipes foram as espécies
mais frequentes, apresentando comportamento pilhador, pois fazem visitas ilegítimas,
roubando pólen das flores, inclusive de botões em pré-antese. As aves Eupetonema
macroura, Coereba flaviola e a abelha Xylocopa grisescens apesar de não ter apresentado
visitas frequentes foram consideradas potenciais polinizadores diurnos pelo fato de fazer
visitas legitimas, ou seja, contatam as estruturas reprodutivas durante a coleta de néctar.
As flores de Passiflora setacea sofreram herbivoria, principalmente, por T. spinipes que
degradam o hipanto da flor e o disco nectarífero. Já o pássaro Icterus jamacaii, destrói
toda flor, inclusive as estruturas reprodutivas. Os resultados mostram que apesar destas
flores serem danificadas, seus frutos não são menores quando comparados com os
produzidos por flores não danificadas.