Dentre as espécies cultivadas mundialmente, o camarão branco Litopenaeus vannamei tem sido o crustáceo mais cultivado. Fatores externos prejudicam sua produção, como as toxinas gerada por cianobactérias, que podem induzir estresse oxidativo, dentre outros efeitos toxicológicos. O fruto Euterpe oleracea, conhecido popularmente como açaí, contém grandes quantidades de moléculas antioxidantes, incluindo antocianinas. Estudos prévios mostraram que a suplementação de antioxidantes pode ser uma estratégia eficaz para amenizar os efeitos tóxicos de cianotoxinas. Deste modo, o objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da adição do açaí na dieta do camarão como uma estratégia quimioprotetora no camarão L. vannamei exposto a cianotoxina nodularina (Nod). Foram utilizadas unidades experimentais de 14 litros, com 3 repetições, contendo 7 juvenis de camarões (1,50 ± 0.39 g) por unidade. O experimento baseou-se na inclusão de 10% de açaí na dieta, além da dieta controle, sem adição de açaí. A ração foi fornecida duas vezes ao dia, durante 30 dias e após, os camarões foram subdivididos em outros 3 tratamentos (Controle, 0,25 e 1 μg de Nod/L), tanto no grupo que recebeu inclusão com açaí quanto os alimentados com a dieta controle. No final do experimento foi avaliado a bioacumulação da toxina no músculo do camarão através de cromatografia líquida de alta eficiência. Também foi avaliada a concentração do antioxidante glutationa reduzida (GSH), utilizando ácido 5,5-ditio-bis- (2-nitrobenzóico), DTNB, e avaliando a absorbância em 405nm. Com o mesmo método foi avaliação a concentração de grupos sulfidrilas associados à proteínas. Também foi
dosada a peroxidação lipídica avaliado pelo método TBARS e, quantificada por fluorimetria. Finalmente, foi medida a atividade da enzima glutationa-S-transferase (GST) espectrofotometricamente. Os dados foram analisados estatisticamente utilizando um modelo linear com componentes de variância (fatores: pré tratamento com açaí e
concentrações de nodularina) seguidos pelo teste de Newmann-Keuls. A inclusão com açaí na dieta foi capaz de aumentar os níveis de glutationa reduzida (GSH), diminuir os níveis de peroxidação lipídica e os níveis de grupos sulfidrila (P<0,05). Na análise da peroxidação lipídica nas amostras de hepatopâncreas, observou-se redução significativa do conteúdo de TBARS nos organismos tratados com açaí (0,13 ± 5,1x10-4 nmol/mg de tecido) comparados com os que não receberam açaí (0,16 ± 5,2x10-4 nmol/mg de tecido) (P <0,05). Na análise de determinação da atividade da enzima GST, não foi encontrada diferenças estatísticas em nenhum dos tratamentos (P>0,05). Os dados da análise de GSH nas amostras de hepatopâncreas dos animais que receberam açaí em sua dieta apresentaram um aumento significativo (0,46 ± 0,03 nM GSH / mg de proteína) em relação ao grupo que não recebeu açaí na dieta (0,27 ± 0,03 nM GSH / mg de proteína) (P <0,05). Entretanto, a exposição a toxina não causou efeito
na concentração de GSH no organismo (P>0.05). Nas amostras de músculo, a presença de açaí na dieta reduziu a concentração de grupos sulfidrilas associados às proteínas (5,99 ± 0,24 μmol equiv GSH/mg de proteína), quando foram comparadas ao grupo que não recebeu açaí em sua dieta. (6,99 ± 0.32 μmol equiv GSH/mg de proteína) (P<0.05). Mas a exposição à toxina não causou diferenças na concentração dos grupos sulfidrila associados às proteínas (P>0,05). É notório o fato de que organismos aquáticos quando expostos a florações de cianobactérias estão sujeitos a apresentar efeitos negativos em seus parâmetros bioquímicos e fisiológicos, podendo levar inclusive a morte. Estas florações podem acontecer naturalmente em ambientes oligotróficos, ou seja, em ambientes
característicos por serem pobres em nutrientes, ou também podem acontecer em ambientes ricos em nutrientes e temperaturas elevadas. No caso em estudo, a toxina nodularina apesar desta toxina ser hepatotóxica (Zimba et al; 2006) também têm sido reportados efeitos em outros tecidos e órgãos (Žegura, Zajc, Lah & Filipič, 2008). Neste estudo, foi verificado a presença da toxina no músculo do organismo, porém as concentrações ensaiadas estão abaixo ou no limite para consumo humano estabelecido no Brasil, estabelecido para uma hepatotoxina como a microcistinas. O valor limite de 1 μg.L-1, adotado pela Portaria 518 de 2004, do Ministério da Saúde, foi estipulado pela Organização Mundial da Saúde com base na variante LR de microcistina. Em camundongos e porcos foi estabelecido o valor de 0,04 μg.Kg-1 como a dose oral máxima diária aceitável (Chorus & Bartram, 1999) aqui caberia comparar com os valores que vc achou no musculo. Tanto a inclusão de açaí quanto a exposição à toxina
não foram capazes de induzir diferenças significativas (P>0,05) na concentração de toxina encontrada no músculo do organismo. Neste presente trabalho, pôde ser observado que a inclusão de biomoléculas antioxidantes fornecida através do fruto açaí na dieta dos organismos, permitiu ao camarão enfrentar o estresse causado pela toxina, minimizando seus efeitos negativos quais foram? Não está claramente enunciado no resumo, e trazendo qualidade na saúde do animal, isto pode ser afirmado com base nos dados de conteúdo de GSH no hepatopâncreas, levando em conta a característica de hepatotoxina da nodularina. A detoxificação do organismo ocorre pela atividade de algumas enzimas, como por exemplo as enzimas do grupo das GSTs, que conjugam cianotoxinas como as microcistinas com o grupo SH (tiol) da molécula de GSH, facilitando a excreção (Jayaraj, Anand & Rao, 2006). Entretanto, no presente estudo, não foi verificado alterações na atividade da GST, o que pode ser consequência do tempo de exposição
e/ou as concentrações de toxina utilizadas no trabalho, Também é importante salientar que até o momento não existem trabalhos que indiquem que a nodularina é substrato das GSTs. Uma alternativa rápida para ver se a nodularina é fe fato substrato das GSTs seria avaliar através de ensaios de docagem molecular Estudo anterior demonstrou aumento significativo no dano lipídico em molusco Perna viridis expostos a Nodularia spumigena durante 3 dias (Davies et al., 2005).Entretanto, no presente estudo foi verificado a diminuição dos níveis de peroxidação
lipídica no hepatopâncreas, evidenciando a atuação do açaí como fonte quimioprotetora frente a toxicidade da toxina. Ao todo, o tratamento com açaí foi capaz de melhorar a capacidade antioxidante do camarão, restando, para trabalhos futuros desafiar ao organismo a concentrações mais elevadas de cianotoxinas e analisar mais apropriadamente a diminuição da concentração dos grupos sulfidrila associados à proteínas observado no músculo dos camarões que receberam açaí.