As terapias anticoagulante e antiplaquetária atuais apresentam limitações, tais como
janela estreita terapêutica e sangramentos. Caesalpinia ferrea é uma planta
medicinal utilizada popularmente como anti-inflamatório e cicatrizante, e efeitos
anticoagulante e antitrombótico foram demostrados preliminarmente para seu extrato
polissacarídico proteinado. Objetivou-se purificar, caracterizar químicaestruturalmente
os polissacarídeos desproteinados das cascas de C. ferrea e avaliar
os seus efeitos anticoagulante, antiplaquetário e antitrombótico. O extrato
polissacarídico desproteinado de C. ferrea (EP-Cf), obtido a partir das cascas (5 g),
que passou por processo de extração alcalina (NaOH 0,1 M) e desproteinização por
ácido tricloroacético, foi fracionado por cromatografia de troca iônica (DEAEcelulose)
e as frações polissacarídicas acídicas eluidas com NaCl (0,1-1,0 M). Os
polissacarídeos foram analisados quanto aos teores de carboidratos totais, ácido
urônico, compostos fenólicos e proteínas; caracterizados quanto sua composição
monossacarídica por cromatografia gasosa (GC-MS), massa molar por
cromatografia de permeação em gel (GPC), e espectroscopia de infravermelho (FTIR);
foram avaliados quanto à atividade anticoagulante pelos testes do tempo de
tromboplastina parcialmente ativada (TTPA), tempo de protrombina (TP), tempo de
trombina (TT) e tempo de recalcificação (TR), quanto à atividade plaquetária
induzida por adenosina difosfato (ADP, 3 μM), e in vivo quanto no modelo de
trombose venosa e tempo de sangramento. O EP-Cf (rendimento-5,3%) exibiu
elevado teor de carboidratos (45%, incluindo 5% de ácido urônico) e as frações
polissacarídicas, com rendimentos (FI-10%), (FII-17%), (FIII-5%), exibiram teores de
carboidratos totais e ácido urônico de FI (33%, 16%), FII (45%, 19%), FIII (16%, 4%),
respectivamente, mas insignificantes níveis de ácidos fenólicos e proteínas. O peso
molecular dos polissacarídeos variou de 9,5 x 104 a 1,5 x 105 Da, na qual FI mostrou
a menor e FIII a maior massa molar. Os polissacarídeos de C. ferrea são
majoritariamente compostos por arabinose (FI-53%, FII-72%) e galactose (FI-25%,
FII-17%) e no FT-IR revelou-se perfis semelhantes entre os polissacarídeos,
mostrando bandas em regiões características para ácido urônico, principalmente
para FI e FII. No TTPA, o EP-Cf prolongou o tempo de coagulação de maneira
concentração-dependente em até 3,5x, FI prolongou em até 1,4x, FII em 1,4-1,6x e
FIII em 3,7x vs. salina (28.7±0.3 s; 28.7±0.8 s; 27.3±0.3 s; 29±0.4 s),
respectivamente e no TR somente FI e FII inibiram a coagulação do plasma em 1,2 e
1,3x vs. salina, respectivamente. No TP e TT, não apresentaram resultados
significativos. Os polissacarídeos inibiram a agregação plaquetária e FIII mostrou
maior efeito inibitório em até 48% (200 μg/μL vs. ADP-100), semelhando ao padrão
clopidogrel (46%). Os polissacarídeos (1,0 mg/kg) inibiram a formação de trombos
(EP-Cf: 52%, FI: 44%, FII: 41% e FIII: 69%) e apenas FIII prolongou o tempo de
sangramento em 1,5x (1,0 mg/kg vs. salina: 1215±61 s). Os polissacarídeos isolados
de C. ferrea (cascas), compostos principalmente de arabinose, galactose e ácido
urônico, apresentam massas moleculares variadas, atividades anticoagulante,
atuando na via intrínseca e/ou comum da coagulação, antiplaquetária e
antitrombótica, com mínimo efeito no tempo de sangramento.
Palavras