O grupo Austrolebias adloffi (Cyprinodontiformes: Rivulidae) compreende 11 espécies
de peixes anuais, que vivem em ambientes aquáticos temporários, no sistema lagunar Patos-
Mirim, no extremo sul do Brasil e parte do Uruguai. Dentre as espécies do grupo, ao menos
seis estão sob risco de extinção, o que se deve principalmente à degradação das áreas úmidas
que habitam, das quais são dependentes. O entendimento dos padrões e processos associados à
distribuição da diversidade genética se mostra uma ferramenta importante para sua
conservação, pois permite, entre outras coisas, definir as unidades evolutivas/taxonômicas
independentes que devem ser efetivamente conservadas, bem como os limites de distribuição
das espécies. O objetivo deste trabalho foi auxiliar na reconstrução das relações filogenéticas
entre as espécies e populações do grupo A. adloffi, elucidando questões taxonômicas internas,
de modo a contribuir na conservação destas espécies. Para tanto, foram coletados 431
indivíduos do grupo, em 31 localidades, abrangendo as 11 espécies do grupo. Foram
amplificados fragmentos dos genes mitocondriais citocromo c oxidase subunidade I (COI) e
citocromo b (cytb), e do gene nuclear rhodopsina. Os amplicons foram sequenciados e foram
feitas análises filogenéticas, de diversidade e de distância para os marcadores individualmente,
para os genes mitocondriais concatenados e para os três marcadores concatenados. As árvores
filogenéticas obtidas indicaram a presença de 13 possíveis espécies, sendo esta hipótese
corroborada pelos valores de distância par-a-par e pelas redes de haplótipos. A monofilia das
espécies A. adloffi, A. viarius, A. arachan, A. bagual, A. pongondo, A. pelotapes, A.
nigrofasciatus e de Austrolebias sp (nova espécie) foi comprovada. Uma população de A.
minuano e as populações de A. charrua apresentam fortes indícios de serem a mesma espécie.
Em contrapartida, as demais populações de A. minuano, que ocorrem na margem leste da
Laguna dos Patos, subdividiram-se em dois clados altamente estruturados entre si, sugerindo a
constituição de espécies distintas. Além disso, A. nachtigalli também se mostrou polifilética, e
uma de suas populações agrupou-se com A. reicherti, sugerindo neste caso, ser o primeiro
registro de A. reicherti em território brasileiro. Por fim, a partir dos dados obtidos, é possível
sugerir que a diversificação do grupo se deu de sul para norte, do interior do continente para a
costa, padrão diferente do observado para outras espécies do gênero que habitam a mesma
região.