Introdução: na literatura fonoaudiológica, o trabalho com atores volta-se, fundamentalmente,
para questões orgânicas envolvidas no processo vocal, como mau uso ou abuso vocal. Em
menor grau, verificam-se, nessa mesma literatura, trabalhos que destacam questões sobre
interpretação e recursos expressivos, além de poucos que destacam a importância dos recursos
linguísticos na interpretação. Já no que diz respeito à literatura linguística, a pausa é abordada sob
perspectivas fonética e fonológica, relacionada a vários planos da linguagem. No presente estudo,
propomos observar o funcionamento de um recurso linguístico a pausa na interpretação
teatral. Vinculados ao campo da Fonoaudiologia, buscamos subsídios teóricos no campo da
Linguística, sobretudo da Fonologia Prosódica. Mais especificamente, destacamos os
constituintes prosódicos frase entonacional (I) e enunciado fonológico (U). Objetivos: (1)
detectar o local de ocorrência de pausas na interpretação que dez atores fazem de um mesmo
texto; (2) levantar as características físicas de duração dessas pausas; (3) verificar em que medida
a duração da pausa se relaciona com seu ponto de ocorrência, no que diz respeito a limites
prosódicos de frases entonacionais (I) e de enunciados fonológicos (U). Metodologia: utilizamos
registros em áudio de dez atores, que interpretaram, individualmente, um mesmo fragmento de
um texto teatral. Após tais gravações serem transcritas, um grupo de dez juízes identificou, sem
que um conhecesse o julgamento do outro, os pontos onde julgaram haver ocorrência de pausas.
Foram considerados, para análise, os pontos detectados por, no mínimo, 70% dos juízes. Quanto
às medidas de duração, em segundos, foi realizada a delimitação de unidades VVs em que havia
ocorrência de pausas. Para análise estatística, foram calculadas medidas de tendência central e de
dispersão da duração das unidades VVs em limites de Is e de Us. Adotamos um nível de
significância de 0,05. Resultados: a média de duração para limites de I foi de 0,77 e de U foi de
1,04; já o desvio padrão foi de 0,27 para I e de 0,30 para U. A duração das unidades VVs em
limites de Us se mostrou significativamente maior do que em limites de Is, além de apresentarem
uma correlação positiva (t= -4,25; df= 90; p= 0,00 ; R= 42). Discussão: Pudemos observar que,
apesar de a interpretação se caracterizar pela subjetividade do ator, essa interpretação é
construída no interior de possibilidades que a própria organização prosódica do texto oferece,
sendo mais, ou menos, flexível. Pudemos, ainda, confirmar, por meio da duração de unidades
VVs das quais constaram pausas, a hierarquia prosódica proposta por Nespor & Vogel, uma vez
que a duração dessas unidades em limites de Us se apresentou significativamente maior do que
sua duração em limites de Is. Conclusão: Desse modo, nossos resultados reforçam a premissa de
que a estrutura linguística se sobrepõe à subjetividade do ator, ou seja, a premissa de que a força
da organização das estruturas linguísticas atua sobre o possível funcionamento/estilo individual.