O presente trabalho tem por objetivo identificar e analisar o que se entende por poligamia a partir do estudo do contexto das sociedades tsonga de Moçambique e mbundo de Angola, abordando a ligação desta com as questões sociais, culturais e tradicionais destes grupos que tem em comum tanto o fato de possuírem o tronco linguístico de origem bantu como de terem sido colonizados por portugueses. Partiremos da analise do período que vai desde 1910 a 1965 que se configura na passagem de um Portugal Imperial para um Portugal Republica, nesse recorte observaremos como a pratica poligâmica sofreu vários prejuízos por parte dos missionários e da República portuguesa numa grande tentativa de destituí-la da cultura local através da implantação de um novo modelo de organização social baseada nos preceitos europeus; levaremos em conta o fato de que mesmo durante a Republica as leis e ordens estabelecidas durante o Império não foram eliminadas, ou ignoradas, mas sim renomeadas e reutilizadas, passando desde a implantação da religião católica e da pratica monogâmica; a construção de igrejas, batismo, conversão e casamento; a educação escolar como projeto de obtenção de mão de obra a serem utilizados como principal ferramentas para prejudicar a permanência da poligamia. Como fonte utilizaremos as obras de alguns autores como, Pierre Bourdieu 1999, Norbert Elias 1994, Michael Foucault 1979, Jhon Iliffe 1999, Henri Junod 1996, David Birmingham 1946, Adu Boahen 1985, Paul Lovejoy 2002, Joseph Miller 1995, John Thornton 2004; assim como as fontes do Boletim da Agencia Geral das Colônias, do Documentário Trimestral de Moçambique e dos Cadernos Coloniais, disponíveis no site do Memória África bem como do Decreto Lei nº 35.461 de 1946, Decreto Lei nº 30.615 de 1940, Constituição Política Portuguesa de 1911, Constituição Política Portuguesa de 1933, Constituição Política Portuguesa de 1940 e do Ato Colonial de 1933. Neste sentido, optamos por uma abordagem interdisciplinar que promove o diálogo entre as obras e fontes a partir da interpretação do que estava descrito em ambas e do que estava escondidos em suas entrelinhas. Pretendendo perceber com isso os conflitos que surgem a partir do choque entre a tradição, a modernidade e as Leis que tentaram coibir a prática da poligamia, mas que não conseguiram elimina-la, e por isso permanece vigente dentro do ambiente familiar e das estruturas sociais tsongas e mbundos.