Para compreender a razão de ser e as consequências da nova economia, é indispensável a organização do pensamento baseado na complexidade. Assuntos complexos exigem um pensamento complexo. A globalização, o processo de reestruturação econômica e o trabalho não podem ser simplesmente compreendidos e, em razão disso, um pensamento ético reducionista sobre tais questões e suas respectivas implicações irá necessariamente produzir resultados negativos. As histórias sobre CEOs e financistas, como se fossem heróis ou vilões, por mais satisfatórias que sejam, devem se curvar à realidade. As transformações são estruturais, não pessoais. Não houve uma mudança na natureza humana, mas sim na estrutura do mercado de capitais, o que possibilitou o aumento da competição e das oportunidades de se alcançar retornos financeiros cada vez mais altos e a curto prazo. A mudança estrutural proposta pelo capitalismo flexível, baseado no lucro a curto prazo, marcada pelo abandono da rigidez das organizações hierárquicas, pela eclosão da reengenharia das corporações e pelas políticas de enxugamento, no qual o que é essencial é se reinventar a todo instante, está atingindo a narrativa de vida de milhões de trabalhadores em todo o mundo, afetando as características mais íntimas e pessoais da existência cotidiana, e os deixando com a sensação constante de estarem à deriva e vivendo sob intenso risco. Com a finalidade de evitar reducionismos, tendo em vista que os elementos principais estão inter-relacionados e que tudo o que é produzido volta-se sobre o que o produz num ciclo autoconstitutivo, se manifesta como essencial, refletir sobre o contexto, os indivíduos, a sociedade, a economia, as empresas e o trabalho. De início, aponta-se o contexto no qual a pesquisa está inserida. Um mundo líquido, com o projeto moderno enfraquecido, onde a flexibilidade, a incerteza e a insegurança assumem uma dimensão sem precedentes. Em um segundo momento, procura-se demonstrar quem é o indivíduo e que sociedade é essa que produz e se reproduz a partir de um capitalismo que gera injustiças e que domina grande parte do conteúdo das relações humanas. Para tanto, demonstra-se o dilema envolvendo a disputa de forças entre a personalidade cidadã e a de consumidor do indivíduo, assim como é realizado um recorte da sociedade a partir de três aspectos: o consumo, o risco e a sua constituição em rede. Ao final, revela-se a transformação das políticas empresariais, através de uma análise detalhada do desenvolvimento do capitalismo norte-americano, bem como os desafios que devem ser enfrentados pela ética empresarial na formação de um cenário onde a integridade, a transparência e a confiança se tornem predominantes, e também a forma como os trabalhadores estão submetidos e lidam com o processo de reestruturação econômica