O presente estudo teve como objetivo analisar os significantes, em torno do sintoma constipação intestinal funcional, na fala de crianças e adolescentes e seus pais. Articulou-se a essa análise a seguinte questão: como a constipação revela a subjetividade da criança, mãe, do pai e/ou da crise do casal (ex-casal) parental? Buscou-se também sensibilizar a equipe interdisciplinar, em especial os gastroenterologistas pediátricos, para os aspectos psíquicos do sintoma em estudo. Tratou-se de um estudo prospectivo-qualitativo, de amostra não probabilística, com crianças e adolescentes, entre 3 e 18 anos de idade, diagnosticados com constipação intestinal funcional, encaminhados para a analista pela equipe médica do ambulatório de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátricas do Complexo HUPES-CPPHO da UFBA. A pesquisa foi dividida em dois braços. O primeiro braço tratou da análise dos significantes que emergiram nas falas dos pacientes a partir de um questionário aplicado pela analista. Quatorze famílias foram entrevistadas. O questionário abordou três aspectos do sintoma: o real do corpo, o simbólico (ideias) e o imaginário (afetos). A segunda parte da pesquisa discorreu sobre o discurso das crianças e dos pais, acerca do sintoma da constipação intestinal funcional, ao longo das entrevistas preliminares. A técnica Psicanalítica utilizada nas entrevistas foi a escuta da analista em atenção flutuante e associações livres dos pacientes. A escuta, em atenção flutuante, foi a via por meio da qual a analista seguiu os indícios da libido e suas fixações reveladas na fala do paciente. Analisou-se os significantes acerca do sintoma da constipação em cento e quarenta entrevistas realizadas. As respostas colhidas, na primeira parte da pesquisa, demostraram, preliminarmente, que os discursos dos filhos e dos pais revelaram conflitos inconscientes subjacentes ao sintoma da constipação intestinal funcional. O insucesso do tratamento medicamentoso foi relatado por treze dos pacientes. O discurso das mães denotou autocobrança, exigência e dificuldades em estabelecer limites. No discurso paterno observou-se a falta de tempo, a desobediência das crianças, mães que impedem o exercício da função paterna e embaraço com a autoridade. Segue uma amostra dos significantes colhidos e associados à constipação: trancar, não posso falar, calar; não se abrir; desconfiar; entupir; prender, não dar; desistir; não saber fazer; tinha que fazer. Nas entrevistas preliminares, a análise dos significantes foi aprofundada. Significantes como fazer, preso, cocô, vaso, colar, segurar versus soltar, dificuldade de dividir, timidez, dor, melar, sujo versus limpo, angústia, agressividade, sofrer,
pai ausente, medo, culpa, controle, bebê, nascer, matar, brincar, trabalhar, dinheiro, teimosia, esconder, monstro, limites, comer versus não comer, dentre outros, repetiram-se entre os casos. A análise das falas dos pacientes revelou conteúdos inconscientes recalcados referentes à pulsão anal, à relação da criança com as fezes, à subjetividade da criança, da mãe, do pai e do casal (ex-casal) parental. Os dez pacientes que aderiram ao tratamento apresentaram melhora significativa, dentre os quais, sete obtiveram a cura do sintoma. Os resultados da pesquisa, apesar de parciais, foram significativos e demonstraram que a Psicanálise cura pelo significante uma vez que a fala, no tratamento, atravessa o corpo e provoca efeitos de cura.