Introdução: A fim de garantir a integralidade do cuidado prestado na Estratégia de Saúde da Família, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que oferecem apoio matricial e suporte técnico-pedagógico às equipes podendo contar com diversas especialidades, entre elas o nutricionista. A inserção deste profissional é reforçada devido às transições demográfica, epidemiológica e nutricional, e pauta-se no Direito Humano à Alimentação Adequada, na Segurança Alimentar e Nutricional e na alimentação saudável em todas as fases do ciclo da vida. Destaca-se, entre as ações promotoras de Segurança Alimentar e Nutricional na Atenção Básica, a alimentação nos primeiros anos de vida, por ser um período relevante na formação dos hábitos alimentares. A idade oportuna, as formas adequadas de introdução de novos alimentos e as dificuldades para sua aceitação, ao lado dos riscos decorrentes do consumo precoce e continuado de alimentos inadequados são temas relevantes para a definição das ações desenvolvidas pelo nutricionista na Atenção Básica, o que fortalece o caráter integrativo da assistência em equipe neste nível de resolubilidade. Objetivo: Desenvolver um escore de inadequações na alimentação complementar e estudar sua associação com determinantes socioeconômicos, demográficos, clínicos e nutricionais, a fim de propor ações e estratégias para a abordagem nutricional adequada da criança durante o primeiro ano de vida no âmbito da Atenção Básica. Métodos: Estudo do tipo transversal com amostra composta por 324 crianças, de ambos os sexos, com faixa etária entre 0 e 6 anos, residentes na área de cobertura de um Centro de Saúde de uma metrópole do Estado de São Paulo. Utilizando-se questionário foi avaliada a introdução da alimentação complementar, bem como variáveis antropométricas, socioeconômicas, demográficas, clínicas e nutricionais. Para a quantificação das inadequações alimentares foi criado um escore baseado no Método Delphi; procedeu-se a avaliação das associações entre o escore e as demais variáveis em estudo utilizando-se o teste qui-quadrado para avaliação das significâncias estatísticas.
Resultados: Todas as inadequações alimentares do estudo mostraram-se frequentes nesta população, com destaque para a introdução tardia de sólidos (80,2%), precoce de açúcares/engrossantes (78,1%) e precoce de líquidos (73,5%). Dentre as variáveis mais significantemente associadas ao escore estão o desmame precoce, expresso pelo tempo de aleitamento materno exclusivo e total; a ausência de companheiro; a mãe ser chefe da família; número de consultas pré-natal menor que oito; e ter moradia própria. A utilização do escore como forma de se realizar o reconhecimento do território e o diagnóstico de saúde e nutrição da população possibilita a identificação de mães de maior risco, o que subsidia ações prioritárias para o trabalho matricial do nutricionista no âmbito da Atenção Básica.
Conclusões: A necessidade de lidar com as atuais transições demográfica, epidemiológica e nutricional ratifica a inserção do nutricionista na AB; o foco na população infantil tem destaque entre as demais questões da assistência, dado ser período relevante para a formação dos hábitos alimentares. O reconhecimento do território com a utilização de ferramentas de assistência nutricional, como o escore, auxilia o profissional a priorizar ações e a realizar abordagem adequada das situações de risco nutricional.