O controle de natalidade em cães é importante do ponto de vista de saúde pública e bem-estar animal. Para machos, o procedimento cirúrgico é a opção mais aceita atualmente para castração. No entanto, têm surgido alguns protocolos para castração química (quimiocastração) de cães com a vantagem do baixo custo, facilidade de execução e diminuição de potenciais riscos em relação à cirurgia. Um dos produtos que tem sido estudado como possível agente esclerosante é o óleo essencial de cravo da índia. Embora apresente tais vantagens, a castração química pode provocar dor intensa e o óleo de cravo por via intratesticular pode apresentar toxicidade ou efeitos colaterais. Dessa maneira o presente estudo teve por objetivo avaliar a dor e os efeitos adversos em cães submetidos à injeção intratesticular de óleo essencial de Eugenia caryophyllata (cravo da índia), para saber a viabilidade do uso deste composto na castração química. Para o procedimento foram selecionados 12 cães machos, sem raça definida e idades indefinidas, aptos divididos em dois grupos. Nos animais do grupo controle foi injetada solução fisiológica intratesticular na dose de 0,5mL em cada testículo. Nos cães do grupo tratado foi administrado óleo de cravo na dose de 0,5mL nos testículos. Para realização da injeção intratesticular, os cães foram sedados com xilazina na dose de 0,01mg/Kg no acuponto Yin Tang. Antes do procedimento foi administrado anti-inflamatório não esteroidal (meloxicam) na dose de 0,2mg/Kg e uma dose profilática do antibiótico cefalotina na dose de 30mg/Kg, ambos por via intramuscular. Em todos os animais foi infiltrada lidocaína no cordão espermático e no parênquima testicular na dose de 4mg/Kg (metade da dose total em cada local). Para mensurar a dor, os cães foram avaliados por dois avaliadores por meio da escala analógica visual e escala modificada de Glasgow. Foi realizado hemograma, leucograma, e mensurado também o cortisol plasmático antes e após o procedimento. Para análise de possível toxicidade do protocolo utilizado, o perfil bioquímico (fosfatase alcalina, alanina aminotransferase e creatinina) também foi avaliado antes e após o procedimento. Após análise estatística das escalas de dor, verificou-se que não houve diferença no nível de dor entre os grupos. Também não se observou diferença estatística nos níveis de cortisol entre os animais do grupo tratado e grupo controle. Após a aplicação do óleo essencial de Eugenia caryophyllata os níveis de cortisol mantiveram-se dentro do intervalo de referência para a espécie canina. No hemograma e leucograma, assim como no perfil bioquímico, os valores continuaram dentro do intervalo padrão para a espécie. A ausência de complicações severas, como êmese, dermatite, hematoma e ulceração e a dor mínima detectada no estudo provavelmente se deve aos componentes anti-inflamatórios e anestésicos do óleo de cravo. Além disso, é possível que tenha ocorrido uma sinergia com o protocolo analgésico e anestésico utilizado nos cães do experimento. Concluiu-se que a administração intratesticular de óleo essencial de cravo da índia não produziu dor intensa, tampouco toxicidade hepática e renal no protocolo adotado e pode ser utilizado para castração química em cães.